30 de mar. de 2017

Suas Últimas Palavras

REF. Várias passagens dos 4 Evangelistas

A Bíblia é o livro mais lido. Nela encontramos a narração da história, de guerras e exílios de uma nação e finalmente a aceitação de um só Deus pelo ser humano. As palavras pronunciadas por Cristo são as mais reverenciadas em toda a Bíblia. Se buscamos em Seus ensinamentos um sentido interno, nosso esforço é recompensado. Neles encontramos a solução para todos os problemas, o bálsamo para todos os sofrimentos dos quais é herdeira a carne, o homem mortal.

Recordemos Suas últimas palavras como estão gravadas no Novo Testamento, para que possamos comprrender a grandeza de Seu sacrifício. Ele as pronunciou depois da Crucifixão. Morreu pelos pecados de toda a humanidade passando por todas as amarguras que cada ser humano tem que passar, antes que o dia de sua ressurreição pudesse ser uma realidade.

Se Cristo não houvesse sido crucificado no Gólgota, não teria havido um Cristo Ressucitado na bendita manhã da Páscoa. Ele se capacitou para ser o Mestre, guia e ideal da humanidade; o único mediador entre Deus e o homem, depois que bebeu até a última gota, do cálice da dor, e se identificou com cada grau do inferno, de trevas, no interior de cada ser humano. Por isso Ele é a Luz do mundo e trouxe a luz ao mundo e a cada ser individualmente.

Cada acontecimento de Sua preciosa vida, como cada relato da Bíblia, é suceptível de várias interpretações. Podemos pensar que Sua crucifixão simboliza a crucifixão que todo ser humano tem que fazer de sua natureza passional, antes que seu espírito imortal possa exclamar como Ele exclamou: "Consumatum Est" (está consumado).

O Grande Espírito Arcangélico veio à nossa terra desde um plano de luz, de liberdade e de amor submetendo-se compassivamente a todas as limitações para poder entender as lutas e sofrimentos do ser humano e poder ajudá-lo.

A Sexta-feira Santa é o dia mais ignominioso e obscuro do ano. Este dia nos revela quão a meudo o auxiliar inegoísta não é compreendido. Cristo não pode evitar a vileza da crucifixão que Lhe foi imposta pelos mesmos seres a quem veio salvar. Não obstante, Ele terminou Sua missão. Todo servidor leal da cruz será crucificado e coroado de espinhos também, antes que possa fazer resplandecer a luz nas trevas.

Todos conhecem o relato de Sua história como nos é narrada nos Evangelhos. Pilatos, o governador de Judeia, advertido pelo sonho de sua esposa, lavou as mãos dizendo: "Sou inocente do sangue deste justo". Porém os inimigos de Cristo, manifestando um sadismo sem paralelo, pediram que se libertasse a Barrabás e se crucificasse a Ele.

"Que seu sangue caia sobre nós e nossos filhos", responderam a Pilatos. Cristo foi crucificado no Gólgota, entre dois ladrões.

Suas primeiras palavras nos mostram a amorosa consideração que sempre teve para com a mãe de Jesus, e para com o Seu discípulo amado, João. Como em todas as ocasiões Ele se preocupava mais com a dor alheia do que com a sua própria dor:

"Mulher, eis aí o teu filho", disse à mãe e "Eis aí a tua mãe", Ele disse ao discípulo amado, ao vê-los parados em frente à cruz, transpassados de dor, sem poder fazer nada. Com sua infinita compaixão abrandou a dor de seus seres amados, ajudando-os e unindo-os ainda mais.

Durante sua missão na terra Ele havia enfatizado os laços do espírito; porém agora reconhecia a necessidade dos laços familiares. Se nos diz que João levou Maria para sua casa, e durante o decorrer do tempo ela contou a João muitas coisas acerca da vida do Mestre.

"Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem", nos diz Lucas que foi a segunda palavra. Muitos Sermões relacionados a estas palavras têm sido pregados, porém o significado delas até hoje é difícil de entender. A multidão sadista, obscecada elo desejo insano de vê-lo crucificado, certamente não sabia o que fazia. Dominados por um sentimento de violência, exigiam a morte do mais nobre personagem que já havia pisado a terra. Ao ver que se realizavam os seus desejos, só restava a Cristo orar por eles. Se dava conta do muito que o Pai teria que perdoar.

Cristo foi crucificado entre dois ladrões para que fosse completa sua degradação, obrigando-o a repartir a vergonha com eles. Os dois ladrões representavam as duas classes de seres humanos que então, como agora povoam a terra: aqueles que egoisticamente o criticam e diminuem tudo e aqueles que possuem melhor juízo. Um dos ladrões sabia que o homem pregado na cruz não era culpado como eles. Repreendeu a seu companheiro dizendo-lhe: "Não temes a Deus? Nós recebemos o castigo por nossos pecados, porém este homem nada fez". Sabemos quão pronto Cristo prometeu ao ladrão arrependido que estaria com Ele no Paraíso. Nisto podemos encontrar novas esperanças. Não importa a gravidade de nossas faltas, nem quão profundo hajamos descido no mal, temos a promessa "vinde a Mim todos os que estais cansados e oprimidos e Eu vos aliviarei". Tão logo reconheçamos nossos pecados e prometermos lutar para reformarmos e fazer restituições, Ele vem em nossa ajuda, da mesma forma em que ajudou ao ladrão arrependido na Cruz. "Hoje mesmo estarás comigo no Paraíso".

No Evangelho de São Mateus encontramos a quarta palavra. Lemos que os que passavam o injuriavam. Também os sacerdotes, os escribas e anciãos mostravam uma satisfação de gente sem alma; "Se és filho de Deus, desce da cruz" Lhe diziam.

"Deus meu, Deus meu, porque me desamparaste?" clamou Cristo ao ver a degradação a que era arrastado o espírito no interior do ser humano. Pensava que talvez havia fracassado no esforço por elevar a humanidade a um nível mais alto de consciência. A Luz perdida para a humanidade, o fez lançar este grito. Cada vez que um ser humano cede à tentação, e cai nas garras de sua natureza inferior, distanciando-se de seu Eu superior, abandona a Cristo em seu interior, e ouve sua voz de desalento "Porque me desamparaste?"

Depois destes acontecimentos, conhecendo Cristo que sua mis­são havia terminado disse: "Tenho sede." Todo ser humano também tem que suportar, além das torturas mentais e emocionais, agonia das necessidades do corpo físico.

A obscurirdade sobre a terra era total. O véu do Templo se rasgou de alto a baixo, esse véu que os Espíritos de Raça haviam colocado para que os mistérios do Templo e do sacerdócio fossem sempre privilégio somente para alguns poucos escolhidos. Agora ficava aberto o caminho para Deus a todos os humildes sem intervenção do Templo nem dos seus sacerdotes. Foi então quando a figura torturada do Salvador lançou seu grito de triunfo: "Está consumado."

Os ensinamentos ocultos nos dizem que foi neste momento que a força de Cristo cobriu totalmente a terra iniciando milhões de seres humanos no caminho do amor e da boa vontade.

"Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito." E tendo dito isto, Cristo expirou. Havia terminado Seu ministério no plano físico, mostrando-nos por meio de um grande sacrifício e seus sofrimentos externos, o caminho, para que todo aspirante sincero possa tomar sua cruz e seguí-Lo.

Na cruz encomendou seu espírito ao Pai. Depois de Ressurreição disse à Maria Madalena que subia ao Seu Pai e a nosso Pai.

Com os corações transbordantes de júbilo e gratidão, nos damos conta de que Ele nos mostrou o caminho e tornou possível que em cada manhã de Páscoa o Amor Divino se derrame sem limites sobre todos nós.

Como Cristos Ressuscitados cada um de nós se elevará eventual­mente quando termine sua Semana da Paixão.

Traduzido de uma lição da Sede Mundial e publicado na revista Serviço Rosacruz, julho, 1964