22 de jul. de 2017

O Fardo Leve

por Gilberto Silos

“Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração e encontrareis descanso para vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.” (Mateus 11:28-30)

Nesses versículos se consubstanciam  ensinamentos profundos dos Evangelhos, ou seja, a exortação, o convite, para a aceitação do Cristo como “o caminho, a verdade e a vida”.

“Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos e eu vos aliviarei”!.Estas palavras ecoam por dois mil anos e nunca pareceram tão atuais como nos dias que correm, pois é um convite dirigido à humanidade de todos os tempos.

É evidente que esse convite e essa promessa pressupõem a universalidade e a onipresença do Cristo. Confirmam as palavras de despedida do Mestre: “Eu estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos”.

Esse convite não provém do Jesus humano, o Jesus de Nazaré, individual, habitante de um determinado ponto da Palestina há dois mil anos. Não! É o Cristo Cósmico, o divino Logos, o Verbo feito carne, que nos quer aliviar o peso das limitações do mundo material. Mas, uma atitude é necessária para que o homem tenha o seu “encontro” com esse Cristo aliviador: que procure o divino dentro de si mesmo, que descubra esse Cristo Interno, esse Emanuel (Deus conosco) no seu íntimo. “Não sabeis, porventura, que sois templo do Espírito Santo e que o Espírito de Deus habita em vós?”

Quando o homem se encontrar com esse Cristo Interno e eterno, estará livre de todo sofrimento e abandonará sua cruz? Não! Isso não acontecerá durante sua existência terrestre, porque o plano físico é intrinsecamente limitador. O homem continuará a carregar a cruz de Cristo, mas ele a sentirá incrivelmente mais leve e sua caminhada suave.

À medida que o ser humano encontre a Divindade dentro de si mesmo há uma mudança em seu estado de consciência, o que lhe permite enxergar tudo – a vida, as pessoas, o mundo e suas próprias experiências – de outra forma. Tudo lhe parecerá mais leve e luminoso, pois o homem não percebe as coisas como elas são, mas sim como ele é. Se ele é melancólico, pessimista, rancoroso, as coisas que o rodeiam serão vistas com medo e amargura, o mundo lhe parecerá um “vale de lágrimas”. Se a sua natureza é jovial, otimista e amorosa, o mundo lhe será uma escola repleta de oportunidades de crescimento e auto-superação.

O grande desafio do espiritualista é justamente praticar essa alquimia de transmutar o mundo exterior pela visão do Cristo Interno. Basta que o indivíduo mude e todos os objetos parecerão mudados; o mundo e as pessoas serão outros.

Porém, esse processo de alquimia exige esforço, vontade, dedicação. Não se realiza ao acaso. Ele representa a “busca da Canaã, a Terra Prometida”, a descoberta do Cristo Interno no íntimo de cada ser. A chegada a Canaã obrigou os israelitas, simbolicamente, a realizarem  uma longa e penosa travessia do deserto. Mas o Cristianismo Esotérico ensina que Canaã, a terra que mana leite e mel, se encontra  no próprio deserto da vida terrestre, no aqui e agora. 

Não é o nascer nem o morrer que conduzem o homem a esse estado de consciência paradisíaco, mas o próprio viver. Não há porque esperar o futuro com sua promessa de redenção e paz. Tudo acontece agora, porque o eterno é o agora, o sempre momento presente. É aqui e agora que a cruz e o fardo devem tornar-se leves.

Saiba mais: Ensinamentos de um Iniciado, Cap. XXVI - A Jornada no Deserto