10 de abr. de 2019

O Getsêmani e Aspirante

REF. Marcos, 14: 26-38

Para um aspirante sincero, o Getsêmani se converte em um lugar familiar umedecido com suas lágrimas pelo sofrimento da humanidade. Ele também se converte em homem sofrido que se identifica com a dor, pois a medida que avançamos no caminho do desenvolvimento espiritual, aumenta nossa sensibilidade para a aflição daqueles seres que sofrem ao nosso redor. Ele sente a angústia como se fosse em seu próprio corpo e a vive em seu coração.

Encontrar o Horto do Sofrimento é um passo muito necessário no Caminho, pois somente a dor pode abrir-nos as portas da Glória. “Antes que nossos pés possam levar-nos a presença de nossos Mestres, devem ser lavados no sangue do coração”.

A lição suprema do Getsêmani é aprender a caminhar sem ajuda dizendo: “Pai, não se faça minha vontade, senão a Vossa”. Temos que seguir Cristo Jesus muitas vezes e provar do Cálice da dor sozinho antes que a suprema lição possa ser aprendida. Há que se beber  desse cálice até o fim para que a ação acumulativa da dor, que destroçará nossos corações, nos ensine a matar nossa personalidade e viver para doarmo-nos  completamente e sem reservas para ajudar a curar o mundo. Quando aprendermos a fazer isto, por uma forma de alquimia divina, todas as paixões transmutam-se em compaixão, uma compreensão divina cujo poder nos capacita para aliviar e curar. Então não poderemos julgar ninguém, criticar nem odiar. Pediremos somente convertermo-nos em um sacrifício vivo no altar da humanidade, sem esperar favores, nem gratidão, nem sequer compreensão daqueles que estão mais próximos de nós e nos são queridos. Nosso único desejo é viver para poder servir. Este é um ideal extremamente elevado para alcançarmos, mas é o único que devemos almejar antes de recebermos nossa libertação final no Getsêmani.

Depois da última Ceia, Cristo Jesus e os onze discípulos passaram através de uma das portas abertas da cidade e subiram ao alto do Monte das Oliveiras. Ordenando aos outros oito discípulos que se mantivessem escondidos atrás das árvores;  o Mestre levou consigo Pedro Santiago, e João, os quais eram os mais avançados espiritualmente entre os seus seguidores. Estes três haviam estado com Ele quando ressuscitou a filha de Jairo, e haviam sido testemunhos da Transfiguração. Pedro e João se “prepararam” para a Entrada triunfal e também para a última Ceia. Estas coisas se relacionam com certo desenvolvimento espiritual desses discípulos.

“Cheio de espanto” (tendo pavor) e “conturbado” (angustiadosignificam em grego, tremendo isolamento e agonia mental. Durante a Tentação, Cristo foi tentado através do prazer e do poder. Em Getsêmani o foi através do sofrimento e da dor. O Aspirante que aprende a seguir-Lhe deve passar por essas mesmas provas, sendo que a severidade das mesmas dependerá do grau particular do seu desenvolvimento. Quanto mais alto ascendamos, mais difíceis as provas . É muito certo que Deus emenda a aqueles que ama.

Cristo Jesus estava procurando fazer com que Pedro Santiago e João abandonassem seus corpos e Lhe seguissem ao Mundo do Espírito de Vida, para que pudessem ler nos arquivos eternos e compreender o significado esotérico de sua missão, com o propósito de que pudessem deduzir que Sua Paixão e Morte não eram um fim, se não o princípio de Seu trabalho. Mas eles falharam, pois estavam ainda tão embebidos na vida material, disputando acerca da posição que havia de corresponder-lhe no Novo Reino, que não lhes foi possível seguir ao Cristo, por isso é dito na Bíblia que estavam dormindo. Cristo Jesus compenetrou-se que devia caminhar sozinho, já que a humanidade devia manter-se nas trevas com relação ao verdadeiro significado da Sua Missão, pois, devia continuar sem ser compreendido e atraiçoado mesmo pelos Seus discípulos mais queridos.

Os discípulos nunca entenderam o significado interno de Seu trabalho até o dia abençoado da iluminação que chamamos de Domingo de Pentecostes.
A provação de Cristo foi tríplice: a Tentação no Deserto, no Getsêmani e na Crucificação. Em relação a esta tríplice prova a agonia do Getsêmani foi também tríplice: a falha de Seus discípulos amados, a traição de Judas e o beber do cálice até o fim, na solidão, sem ser compreendido.

Judas representa a natureza inferior do homem, essa tendência que procurando trair constantemente a natureza superior. O beijo de Judas representa a natureza astuciosa em seus esforços para sobrepor-se.

Judas era o tesoureiro do grupo. Sua ambição pessoal sofreu um golpe quando Cristo Jesus recusou dirigir em exército contra Roma. Judas esperava que o Mestre se proclamasse Rei e lhe desse um alto posto entre os oficiais. À medida que o Mestre dava ensinamentos mais profundos e espirituais, Judas se perturbava mais e mais e como não entendia o lado mais profundo da tarefa de Cristo, sua confusão degenerou-se em raiva e ódio e começou a tramar uma traição. Os trinta ‘”dinheiros” de prata, tem um significado esotérico profundo e se relaciona com a queda do princípio feminino no homem. Judas pertencia a tribo de Judá que era regida pelo signo de Leo, o signo do coração. A humanidade cairá ou se levantará através da sua natureza amorosa, cujo centro está no coração.

Os poderes Crísticos de João e de Judas, representam poderes internos. Cabe-nos transmutar a natureza de Judas e converte-la na de João, a fim de despertar a divindade de Cristo dentro de nós. Faríamos bem em meditar no axioma dos antigos gregos: “Homem, conhece-te a ti mesmo

Traduzido da “Rays” de 1930, mês desconhecido pela Fraternidade Rosacruz – Sede Central do Brasil