por Jonas Taucci
Uma amiga solicitou-me
informações sobre os anacoretas: iria elaborar um TCC (Trabalho de
Conclusão de Curso, aqui no Brasil; uma dissertação a nível universitário, ao
final de um determinado curso acadêmico).
Aproximadamente 18 séculos depois
de seu início pelos desertos do Egito, e depois expandindo-se pela Síria,
Pérsia, Capadócia, Armênia e Palestina, uma movimentação (solitária) de
pessoas, intriga, assusta e causa perplexidade até nossos presentes dias.
Cristãos, residentes no Egito do
século IV DC (aproximadamente no ano 330), abandonaram seus lares, posses, cargos etc. para irem residir no
deserto. Moravam solitariamente em cavernas, ou casebres construídos de pedras
e folhas, alimentando-se de pão, raízes, e frutas secas doadas por algum
transeunte de caravanas. Seus contatos com outras pessoas eram mínimos.
Dedicavam-se a orações, penitencias,
jejuns e a escritos litúrgicos: suas roupas logo esfarrapavam-se, e nus,
permaneciam nestas condições por décadas.
Esperavam – com este
comportamento – aproximarem-se da divindade, de Cristo, de Deus.
O anacoreta cristão fugia, para o
deserto, da comunidade temporal a que pertencia na sociedade, para juntar-se –
segundo eles – à comunidade espiritual, invisível, que reunia todos os cristãos
de séculos anteriores.
E assim, este comportamento que
rompia com a sociedade, culminou – com o passar do tempo – em uma nova
sociedade nos desertos das localidades acima citadas. Como anacoretas, sabemos
da existência de: Antão, Pacômio, Doroteu, Macário, Zózimo, Eusébio, João
Clímaco, Alípio, Evrágio Pôntiaco, Gerásimo, Múcio e outros milhares...
Abaixo, certas
características suas:
*** Residiam –
propositalmente – em lugares distantes cerca de 10 km. de um rio ou fonte, para
forçarem uma penitência de ir e vir buscar água. Muitas vezes, carregavam na
ida e volta, pedras para dificultar esta atividade.
*** Apesar da
vista no deserto, de uma noite com céu maravilhosamente estrelado, ficavam
décadas sem contemplar esta cena, por “acharem-se indignos de ver as
maravilhas que Deus construiu”. Jamais levantavam seus olhares.
***
Alguns anacoretas, subiam em
árvores, e entre os galhos, viviam por décadas, sendo alimentados por
visitantes, esporadicamente.
*** Outros, empilhavam
pedras, de modo a alcançar uma altura de cerca de 15 metros de altura. Depois
subiam ao topo, ficando lá – em oração – por anos a fio.
*** Em troncos de
árvores de porte, esculpiam um buraco, fixando residência aí, pelo resto de
suas vidas.
Há muitas outras características
existenciais dos anacoretas; demandaria um espaço enorme para sua citação, mas
penso ser o resumo acima, uma ideia bem aproximada do que foi este movimento.
(Ele ainda existe, em escala menor, em
desertos do oriente).
Há quem conteste – através dos
séculos – esta postura isolacionista dos anacoretas.
Os Ensinamentos da Sabedoria Ocidental está entre os que não indicam um estilo de vida
desta maneira, onde não há contato algum (ou mínimo) com outras pessoas.
Evoluímos – determinantemente –
nos relacionamentos com nossos semelhantes, e jamais através de livros, cursos,
textos, palestras, e principalmente isolando-se do mundo e das pessoas. Estas,
são a mola propulsora de nossos avanços espirituais.
Em meu parecer – respeitosamente
– houve nuances egoístas no retirar-se para os desertos, por parte dos anacoretas:
deixaram para trás, semelhantes enfermos e desassistidos; focaram-se apenas em sua salvação (a contramão do desenvolvimento espiritual).
Em uma lição mensal de Filosofia
(aos estudantes) de Oceanside, Sede Mundial, início dos anos 60, o tema referia-se
a exatamente isto: NÃO HÁ COMO CONSEGUIR UMA ABRANGÊNCIA DE LUZ INTERNA,
ABANDONANDO NOSSOS SEMELHANTES, DEIXANDO DE PRATICAR O SERVIÇO. A lição do amor, pregada por Cristo, o maior
iniciado do Período Solar, jamais deve ser esquecida, nem eclipsada por “conhecimento” (muitas vezes canto das sereias).
Esta lição de Oceanside,
terminava enfatizando nossas posturas de amor e caridade para com os outros,
resultando num “LIVRO
DA VIDA” (Apocalipse de
João, 21:27) e chancelada por Cristo:
Ainda que residindo urbanamente, vivemos um
estilo de vida anacoreta?