3 de ago. de 2019

“Ficais alegres, porque vossos nomes estão escritos nos céus”

por Jonas Taucci

Uma amiga solicitou-me informações sobre os anacoretas: iria elaborar um TCC (Trabalho de Conclusão de Curso, aqui no Brasil; uma dissertação a nível universitário, ao final de um determinado curso acadêmico).

Aproximadamente 18 séculos depois de seu início pelos desertos do Egito, e depois expandindo-se pela Síria, Pérsia, Capadócia, Armênia e Palestina, uma movimentação (solitária) de pessoas, intriga, assusta e causa perplexidade até nossos presentes dias.

Cristãos, residentes no Egito do século IV DC (aproximadamente no ano 330), abandonaram seus lares, posses, cargos etc. para irem residir no deserto. Moravam solitariamente em cavernas, ou casebres construídos de pedras e folhas, alimentando-se de pão, raízes, e frutas secas doadas por algum transeunte de caravanas. Seus contatos com outras pessoas eram mínimos.

Dedicavam-se a orações, penitencias, jejuns e a escritos litúrgicos: suas roupas logo esfarrapavam-se, e nus, permaneciam nestas condições por décadas.
Esperavam – com este comportamento – aproximarem-se da divindade, de Cristo, de Deus.

O anacoreta cristão fugia, para o deserto, da comunidade temporal a que pertencia na sociedade, para juntar-se – segundo eles – à comunidade espiritual, invisível, que reunia todos os cristãos de séculos anteriores.

E assim, este comportamento que rompia com a sociedade, culminou – com o passar do tempo – em uma nova sociedade nos desertos das localidades acima citadas. Como anacoretas, sabemos da existência de: Antão, Pacômio, Doroteu, Macário, Zózimo, Eusébio, João Clímaco, Alípio, Evrágio Pôntiaco, Gerásimo, Múcio e outros milhares...

Abaixo, certas características suas:

*** Residiam – propositalmente – em lugares distantes cerca de 10 km. de um rio ou fonte, para forçarem uma penitência de ir e vir buscar água. Muitas vezes, carregavam na ida e volta, pedras para dificultar esta atividade.

*** Apesar da vista no deserto, de uma noite com céu maravilhosamente estrelado, ficavam décadas sem contemplar esta cena, por “acharem-se indignos de ver as maravilhas que Deus construiu”. Jamais levantavam seus olhares.

*** Alguns anacoretas, subiam em árvores, e entre os galhos, viviam por décadas, sendo alimentados por visitantes, esporadicamente.

*** Outros, empilhavam pedras, de modo a alcançar uma altura de cerca de 15 metros de altura. Depois subiam ao topo, ficando lá – em oração – por anos a fio.

*** Em troncos de árvores de porte, esculpiam um buraco, fixando residência aí, pelo resto de suas vidas.

Há muitas outras características existenciais dos anacoretas; demandaria um espaço enorme para sua citação, mas penso ser o resumo acima, uma ideia bem aproximada do que foi este movimento.

 (Ele ainda existe, em escala menor, em desertos do oriente).

Há quem conteste – através dos séculos – esta postura isolacionista dos anacoretas.

Os Ensinamentos da Sabedoria Ocidental está entre os que não indicam um estilo de vida desta maneira, onde não há contato algum (ou mínimo) com outras pessoas.

Evoluímos – determinantemente – nos relacionamentos com nossos semelhantes, e jamais através de livros, cursos, textos, palestras, e principalmente isolando-se do mundo e das pessoas. Estas, são a mola propulsora de nossos avanços espirituais.


Em meu parecer – respeitosamente – houve nuances egoístas no retirar-se para os desertos, por parte dos anacoretas: deixaram para trás, semelhantes enfermos e desassistidos; focaram-se apenas em sua salvação (a contramão do desenvolvimento espiritual).

Em uma lição mensal de Filosofia (aos estudantes) de Oceanside, Sede Mundial, início dos anos 60, o tema referia-se a exatamente isto: NÃO HÁ COMO CONSEGUIR UMA ABRANGÊNCIA DE LUZ INTERNA, ABANDONANDO NOSSOS SEMELHANTES, DEIXANDO DE PRATICAR O SERVIÇO.  A lição do amor, pregada por Cristo, o maior iniciado do Período Solar, jamais deve ser esquecida, nem eclipsada por conhecimento (muitas vezes canto das sereias).

Esta lição de Oceanside, terminava enfatizando nossas posturas de amor e caridade para com os outros, resultando num “LIVRO DA VIDA” (Apocalipse de João, 21:27) e chancelada por Cristo:


 Ainda que residindo urbanamente, vivemos um estilo de vida anacoreta?