29 de dez. de 2022

O Pai Nosso, A Prece Do Senhor

"A Bíblia foi dada ao Mundo Ocidental pelos Anjos do Destino que dão a cada um e a todos, exatamente o que necessitam para o seu desenvolvimento."
(Max Heindel)

Referências: Mateus 6:9-13; Lucas 11:1-4; Atos 6:4; Romanos 12:12 e Tiago 5:6

A Oração, podemos dizer, abre um caminho através do qual a Vida e a Luz Divina podem expandir-se no Espírito, tal como, um comutador elétrico abre um caminho à corrente elétrica da usina de força até à nossa casa. A Fé, na Oração, é a energia que dá a volta ao comutador. Sem esforço muscular não daremos volta ao comutador para obter luz física e sem a fé não podemos orar de maneira a receber a iluminação espiritual. Se oramos com fins contrários à Lei, ao Amor e ao Bem Universal. as nossas orações não serão eficazes. Serão como um comutador de vidro num circuito elétrico. O vidro não é condutor, constituindo uma barreira à corrente elétrica, tal como as orações egoístas são barreiras aos desígnios de Deus. Por esta razão ficam sem resposta. Para que a oração atinja seu objetivo, é necessário orar de maneira justa.

O Pai Nosso é, precisamente, um maravilhoso modelo de Oração, provendo às necessidades do homem, como nenhuma outra fórmula poderia fazê-lo. Em algumas frases curtas encerra todas as complexas relações de Deus com o homem.

Para compreender bem esta sublime Oração e para poder realizá-la com compreensão e eficácia, lembremos que:

O Pai é o mais elevado Iniciado do Período de Saturno. O Filho é o mais alto Iniciado do Período Solar. O Espírito Santo é o mais alto Iniciado do Período Lunar.

O Espírito Divino e o corpo denso do homem começaram sua evolução no Período de Saturno e estão, portanto, sob a proteção especial do Pai.

O Espírito de Vida e o corpo vital começaram a sua evolução no Período Solar e estão particularmente a cargo do Filho. 

O Espírito Humano e o corpo de desejos começaram a evolução no Período Lunar e estão confiados especialmente à guarda do Espírito Santo. 

A Mente surgiu durante o Período Terrestre e não se encontra protegida por seres exteriores, mas deve ser guiada pelo próprio homem, sem nenhum auxílio externo.

No Pai Nosso há sete orações, ou mais exatamente, há três grupos de duas Orações e uma Súplica. Cada um destes três grupos está em relação com as necessidades de um dos aspectos do Tríplice Espírito e da sua contraparte no Tríplice Corpo. A frase inicial: "Pai Nosso que estás nos Céus" é apenas o endereço no envelope.

Recomenda-se ao estudante meditar sobre o diagrama 16 do Conceito Rosacruz do Cosmos que encerra a chave desta Oração e mostra a relação entre a Trindade, o Tríplice Espírito, o Tríplice Corpo e a Mente. Cada aspecto do Espírito está ligado por uma linha com a oração especialmente apropriada à sua contraparte no Tríplice corpo e dirigida ao elemento da Trindade que o tem sob a sua custódia.

O Espírito Humano eleva-se nas asas da Devoção até ao seu aspecto correspondente na Santa Trindade, o Espírito Santo, e pronuncia a Invocação: "Santificado seja o Teu Nome".


O Espírito de Vida eleva-se por Amor e dirige-se à fonte do Seu ser, o Filho: "Venha a nós o Teu Reino".

O Espírito Divino eleva-se pela Visão Interior Superior até ao Pai, fonte capital donde nasceu no dealbar dos tempos. Manifesta a sua confiança nesta Universal Inteligência com as palavras: "Seja feita a Tua Vontade".

Tendo alcançado assim o Trono da Graça, o Tríplice Espírito no homem apresenta as suas petições relativas à Personalidade ou Tríplice Corpo. O Espírito Divino roga ao Pai pela sua contraparte, o Corpo Denso; "O pão nosso de cada dia dá-nos hoje"

O Espírito de Vida roga ao Filho pela sua contraparte, o corpo vital: "Perdoa-nos as nossas dívidas assim como nós perdoamos aos nossos devedores"

O Espírito Humano roga pelo corpo de desejos com estas palavras: "Não nos deixes cair em tentação". 

E finalmente todos se juntam em comum apelo pela Mente: "Mas livra-nos do mal".

A frase final: "Porque Teu é o Reino, o Poder e a Glória" não foi dada por Cristo, no entanto, é muito apropriada como adoração final do Tríplice Espírito que termina a sua súplica à Divindade.

Considerando a explicação acima citada sob o ponto de vista analítico, vemos que há três sistemas religiosos que devem ser conferidos ao homem a fim de ajudá-lo a alcançar a perfeição: primeiro, Religião do Espírito Santo; segundo, a Religião do Filho, e por último, a Religião do Pai.

Sob o regime do Espírito Santo, a raça humana foi dividida em nações e os homens, pela sua adesão a um grupo, separaram-se da comunidade das nações. Depois, cada um dos grupos desprendeu-se dos outros pelo emprego de uma linguagem própria. Todos foram submetidos a certas leis e aprenderam a reverenciar o nome de seu Deus: um povo adorava-O sob o nome de LAO, outro com o nome de TAO e um terceiro sob o nome de BEL. Em todas as partes o nome deste Doador da Lei era considerado como Santo. O Chefe dos Espíritos de Raça, JEOVA, podia empregar um povo para castigar outro que havia transgredido a Lei; mas com isso surgia o inconveniente do crescimento do egoísmo e de separação da humanidade em detrimento do Bem Universal.

"O que não convém para todos, não serve para ninguém".

Assim, também, há que encontrar os meios de reunir as nações dispersas e fundi-las numa Fraternidade Universal. Tal será a obra de Religião do Filho, o Cristianismo. O espírito guerreiro das nações é desenvolvido pelos Espíritos de Raça, mas a Religião Cristã uni-las-á um dia e far-lhes-á trocar as suas espadas por arados, trazendo Paz e Boa Vontade sobre a Terra, quando o Reino do Filho tenha substituído as tribos e as raças.

Mais tarde, um ensino religioso ainda mais elevado, a Religião do Pai, unirá ainda mais estreitamente a humanidade. No Reino do Filho haverá uma Fraternidade Universal de indivíduos separados, isolados, que embora tendo interesses diferentes dispor-se-ão a dar e a receber o Amor, abandonando suas preferências individuais a favor do bem comum.

Porém, quando a Religião do Pai tornar-se uma realidade entre nós, o individual será completamente absorvido pelo interesse comum e, então uma vontade única, a Vontade de Deus, será feita sobre a Terra como no Céu. Não haverá mais Tu nem Eu, mas Deus será tudo em todos.

Nesse meio tempo, um certo trabalho deve ser concluído pelo Tríplice Espírito no Tríplice corpo, para espiritualizá-lo e dele poder extrair a Tríplice Alma.

O corpo denso é, apenas, um instrumento irresponsável. No entanto, tem um valor inestimável. Dele devemos cuidar e apreciar como um mecânico cuida e aprecia uma ferramenta de valor. Mantenhamos constantemente diante da nossa visão mental, o fato de que não somos os nossos corpos, como o mecânico não é suas ferramentas nem o carpinteiro é a casa que constrói. Este fato torna-se evidente se considerarmos que o nosso corpo é um agregado de células em perpétua mudança, enquanto que nós guardamos a identidade do nosso "EU" a despeito dessas mudanças, o que seria impossível se fôssemos identificados com o nosso veículo denso.

"Dá-nos hoje o pão nosso de cada dia", diz a quarta oração. Muitas pessoas comem demasiado e para elas um jejum ocasional pode ser útil. O jejum é desnecessário para os que não têm o prazer da mesa, mas vivem uma vida simples e frugal. Quando o corpo é demasiado nutrido, o Espírito pode estar sempre pronto, mas a "carne" será fraca. Constitui um erro, um Espírito jovem querer dominar a natureza inferior pelo jejum e torturas, a exemplo dos Iogues Indus, martirizando os seus corpos e imobilizando os seus membros. Este é um tão deplorável para o verdadeiro desenvolvimento espiritual, como o hábito de comer muito. Como dissemos, o homem dominador de seu apetite, não tem necessidade de jejuar, pois pode dar ao seu corpo o pão quotidiano com equilibrado bom senso.

Sendo o corpo vital o depósito do panorama da vida, onde são inscritos os nossos próprios pecados e o mal que sofremos dos demais, temos a quinta oração que anuncia as necessidades do corpo vital: "Perdoa-nos as nossas dívidas como nós perdoamos aos nossos devedores". Refere-se às necessidades do corpo vital.

Notemos que esta oração ensina a doutrina da remissão dos pecados nas palavras "Perdoa-nos"; e a Lei de Consequência, nas palavras: "Como nós perdoamos", fazendo assim da nossa atitude em relação aos outros, a medida da nossa redenção.

"Não nos deixes cair em tentação", é a prece para o corpo de desejos. Este sendo um depósito de energia, fornece o incentivo à ação. Uma sentença oriental diz: "Mata o desejo". E os orientais apresentam evidentes exemplos da indolência que dai resulta. "Matai a vossa ira" é um mau conselho, dado aos que se encolerizam. O homem sem desejos é como o aço não temperado, não pode cortar.

No Apocalipse, enquanto seis igrejas são louvadas, a sétima é anatematizada porque "não é fria nem quente, mas apenas uma comunidade insípida". Quanto maior é o pecador, maior é o santo, em um adágio verdadeiro. Ação de pecar requer energia, e esta energia pode ser empregada para o bem. Um homem pode ser bom porque pode não reunir a energia bastante para ser mau. Enquanto somos débeis, a nossa natureza de desejos nutre-nos e induz-nos à tentação; mas quando aprendemos a controlar nossa natureza de desejos, podemos então guiar o nosso caráter em harmonia com as Leis de Deus e dos homens. O desejo é o grande tentador da humanidade. É o incentivo principal de toda a ação e é bom enquanto esta serve aos desígnios do Espírito. Quando, porém, o desejo nos impele ao encontro de algo degradante é verdadeiramente necessário orarmos para não cairmos em tentação.

O Amor, a Fortuna, o Poder e a Fama, são os quatro incentivos mais importantes da atividade humana. Os Grandes Guias da humanidade, tiveram a sabedoria necessária para fazer deles o incentivo à ação, a fim de que o homem possa adquirir experiência e instruir-se. Eles são necessários e o aspirante pode continuar sem temor a fazê-los motivo de sua atividade, mas deve transmutá-los em algo superior. Deve transformá-los em aspirações mais nobres ao invés do amor egoísta que busca a posse de outro corpo.

O AMOR a que deve aspirar é o que vem da alma e abrange todos os seres, independente de raça, nacionalidade, credo, ou condição social. Tal amor cresce em proposição direta às necessidades de outrem.

Outra RIQUEZA não é digna de ser almejada senão a abundância de oportunidades para servir aos seus semelhantes.

Outro PODER, além do que serve para elevar o nível da humanidade.

Outra GLORIA, além da que aumenta as suas capacidades para divulgar as boas novas a fim de que todos os que sofrem possam rapidamente encontrar consolo, para o seu coração aflito.

O poder que guia e dirige esta energia dos nossos desejos, é a MENTE. A sétima oração. "Mas livra-nos do mal" é feita em favor da Mente.

Os animais são impelidos pelos seus desejos e não cometem pecados. Para eles não há maldade. Esta vem ao nosso conhecimento, só por intermédio da mente, e, pelo seu discernimento pode o homem ver diferentes cursos de ação e optar por um deles. Se resolve atuar em harmonia com o Bem universal, cultiva a virtude; agindo em contrário, cultiva o vicio. Notamos então, que a "inocência do menino", não é, de modo algum, uma virtude. O menino ainda não foi tentado, e por isso, é inocente. Com o tempo, a tentação insinuada pelos seus desejos virá provar o seu temperamento. Do domínio da mente sobre os desejos dependerá a sua tendência para o bem ou para o mal.

Se a mente é bastante poderosa para "Livrar-nos do mal", tornar-nos-emos virtuosos, o que é uma qualidade positiva, e mesmo, se caímos alguma vez antes de compreender o nosso erro, adquiriremos virtude logo que nos arrependamos e nos apartemos do mal. Mudamos então a qualidade negativa da inocência pela qualidade positiva da virtude.

Assim é que a ORAÇÃO DO SENHOR abarca todas as partes constitutivas do homem e expressa as suas necessidades respectivas, o que revela a sabedoria maravilhosa que está contida nesta simples fórmula.

5 de ago. de 2022

Quando A Omissão Retarda o Progresso Espiritual

Ref.: Tiago, várias versículos

A Epístola Universal de São Tiago contém poderosa mensagem, que aponta claramente a preocupação do autor para o crescimento espiritual através da AÇÃO, especialmente quando as condições da vida são difíceis. Em seu versículo 22, enfaticamente declara que a verdadeira religião é mais do que fé. É a lei da ação. "Sede cumpridores da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos, porque se alguém é ouvinte da palavra e não cumpridor, é semelhante ao varão que contempla no espelho o seu rosto natural".

Tiago, também exorta que consideremos as provas e as perseguições como um privilégio, em vez de culpar a Deus, "Tenha, porém, a paciência a sua obra perfeita, para que sejais perfeitos e completos" (1:4) O aspirante a vida superior procura, naturalmente, evitar os erros que impediriam o seu progresso espiritual. Procura não roubar, evita as maledicências, a violência, o adultério, a fraude, não se vangloria, não julga e, em geral se mantém longe de tudo que interfere com o seu Caminho.

Tratando obter um melhor autoconhecimento, alguns aspirantes passam longas horas na tarefa de obter informações suplementares, querem pesquisar as suas origens, saber do seu desenvolvimento futuro e procuram soluções para o Mistério do Mundo. Isso demanda longas horas e consequentemente, não sobra tempo para serem também "cumpridores da palavra" atividade de que alguns deliberadamente procuram se furtar sob essa, ou aquela alegação.

Quanto a aquisição de conhecimentos, Max Heindel nos diz: "É repreensível passar a vida egoisticamente na procura exclusiva do avanço espiritual, como seria repreensível não haver nenhum avanço espiritual".

São Tiago diz claramente no cap. 4:17 da mesma Epístola: "Aquele pois que sabe fazer o bem e não faz, comete pecado".

A omissão pode ter consequências graves. Os pecados de omissão não são menos sérios que os pecados de comissão e determinam também a vida e desenvolvimento do futuro aspirante. Para quebrar a cristalização de nossa indiferença no sentido de dominar e vencer nossa tendência para a omissão, devemos lançar mão de concentração e determinação, na realização efetiva de sermos "cumpridores da palavra", não olvidando que os atos de abnegação ao semelhante contribuem grandemente para o crescimento do Corpo- Alma e do Corpo Vital. O serviço à raça humana é o ensinamento crucial da Filosofia Rosacruz e sem o uso prático e muito positivo desse conhecimento místico, o aspirante contribui para a não-realização de um vital progresso em sua caminhada, ao qual não poderá se chegar tão somente através de estudos vigorosos.

Há tantas maneiras de "fazer o bem", e São Tiago antecipa no cap. 1:27 os pontos principais do que deve se considerar importante: - "A RELIGIÃO PURA E IMACULADA PARA COM DEUS, O PAI, É ESTA: VISITAR OS ORGÃOS E AS VIÚVAS, NAS SUAS TRIBULAÇÕES, E GUARDAR-SE DA CORRUPÇÃO DO MUNDO". Nem todos podem nem todos querem visitar órfãos e viúvas, porém seria simplificar ao máximo o nosso papel se a nossa racionalização concluir com um simples não já que "seguramente há um grande número de voluntários e eu estaria provavelmente atrapalhando o serviço".

Nós todos gostamos de receber cartas, porém, quantos há que protelam a hora de responder devidamente? Não é um erro grave, por certo, mais é um pecado de omissão, apontando para o nosso prazer em receber e relutância de sermos incomodados para dar de nós mesmos.

Até os acamados podem agir pela atividade mental de orar pelo trabalho da Fraternidade como centro espiritual de progresso para a humanidade, para os dirigentes do mundo em sua luta de manter a PAZ, para os líderes locais tentando equilibrar os orçamentos, e para uma colaboração sempre mais esclarecida, que possa manter longe a tragédia da guerra e assim por diante. O mundo de hoje palpita em direção da mutação. Cada ato desinteressado, multiplicado por milhões de outros do mundo todo, cada oração em benefício do mundo e cada ação direta inteligentemente alinhada com a evolução trará o aspirante e a raça um passo à frente, na senda do progresso espiritual.

Ao findar o dia, podemos levar os nossos pecados de omissão ao tribunal de nosso Cristo interno através da retrospecção, e receberemos o Seu perdão. Os pecados de omissão, por outro lado costumam não ser lembrados na retrospecção. Em realidade, deveriam ser transformados em prioridades para a ação do dia seguinte, ou tão cedo quanto possível.

Não podemos nos dar ao luxo de carregar indefinidamente uma longa e pesada relação de nossos pecados de omissão. Eventualmente, a Lei da Consequência demandará de cada aspirante o crescimento para um estado espiritual adulto em que cessamos de ser ouvintes da Palavra e nos tornamos praticantes da mesma.

Publicado na revista Serviço Rosacruz, nov., 1980

12 de jun. de 2022

"Os Céus e a Terra Passarão..."


Ref.: Mateus (24:35)

O Mundo passara, mas minhas palavras ficarão, falou Cristo, segundo o Evangelho de São Mateus.

Se dividimos esta frase em duas partes como segue – o mundo passará – entenderemos que o mundo não terá existência. Verificamos que Cristo fala do futuro deste mundo. O fim dos tempos da Terra é que esta se transmuta, dissolve sua estrutura, como achamos a Terra em nossos dias. Haverá uma transmutação, uma espiritualização.

A segunda parte é esta: as minhas palavras ficarão, mesmo quando a Terra não tiver mais existência. Verificamos que a palavra de Cristo tem mais força para existir do que se pode supor. A Palavra de Deus que vive em Cristo, sempre tinha, teve e terá existência. A Palavra de Deus que vive em Cristo tem a potência da contínua criação. O Verbo, as palavras em Cristo, tem mais poder sobre as cousas do que a Terra em sua construção. Cristo está interessado em devolver as partículas atômicas à sua origem, assim então a Terra passará, mas as palavras permanecerão através dos Tempos afora, para o Espaço, onde não existe temporariedade. A Terra é temporária, assim desaparecerá.

O Espiritualista deve meditar sobre a inexistência anterior da Terra, e da não existência posterior.

(*) Francisco Preuss foi um dos fundadores da Fraternidade Rosacruz Max Heindel no Brasil (veja aqui)

28 de mai. de 2022

A Visita de Maria - Uma Interpretação Esotérica


Ref.: Lucas (1: 24 a 56)

Cumprindo a ordem de Gabriel, Maria parte em ajuda a Izabel.

À saudação de Maria, a criança, no ventre de Izabel, “dá saltos de alegria”. Tertuliano, Orígenes, Irineu, Ambrósio e o teólogo Suarez, afirmam que João Batista, já no ventre, tinha o uso da razão. Isto é mais lógico e natural que a “intervenção divina” mencionada por Agostinho. De fato, Max Heindel esclarece: quando um espírito alcança um elevado grau evolutivo já começa a formar conscientemente os seus veículos, no ventre da mãe, em vez de deixar que esse trabalho seja feito inconscientemente pela genitora. Ora, com a consciência que possuía (reencarnação de Elias), João Batista (ainda no ventre de Izabel) exprimiu sua alegria ao encontrar com os companheiros Iniciados, que estavam encarnados como Maria e Jesus (no ventre de Maria).

Izabel, como Iniciada essênia, também não tinha dificuldades em saber que Maria se achava grávida (vers. 42), embora de poucos dias e, por isso, externamente imperceptível.

A resposta de Maria é um cântico maravilhoso, conhecido em toda a cristandade como “Magnificat”, reproduzindo pensamentos do Velho Testamento, sobretudo dos Salmos. Seu início ressalta a diferença entre o espírito e a alma, que o estudante rosacruciano deve distinguir bem. Essa mesma distinção entre espírito e alma se acha em Jó 12:10 Velho Testamento); e em Tessalonicenses 5:23, Hebreus 4:12 (Novo Testamento).

A humildade de Maria que se julgava pequena escrava, não é contradição ao seu regozijo de ser chamada bem-aventurada por todas as gerações. Escravo de Deus não é o que seja forçado a isso, mas o que voluntariamente se submete ás leis divinas, sabendo que nisso está a verdadeira liberdade. Como disse Paulo: “ Lá onde habita o espírito (vivência elevada), é que existe a liberdade” (II Cor. 3:17). Ao contrário, o ser mundano que se julga livre não pode fugir das leis mantenedoras da harmonia universal que lhe trazem o justo corolário de sua ignorância: o sofrimento.

O reconhecimento de que Deus é poderoso, mas ao mesmo tempo exerce misericórdia, de geração em geração (através dos renascimentos), é uma expressão de louvor. Tem, sentido idêntico ao Salmo 103:17 – não de temor, mas de fidelidade e respeito.

Os versos 51 a 53 estão conforme I Reis 2:5-7; Eclesiastes 10:14; Salmos 34:10-11; 107:9, 148:6; e Jó 5:11, 12:19 e 22:9. Estas citações de Lucas e do Velho Testamento constituem mais uma defesa ao Renascimento, pois dificilmente sucede que os poderosos sejam derrubados e humildes exaltados, do ponto de vista material. O abuso ou mérito de uma vida é que trazem a consequência inevitável em futura encarnação, pelo mau uso ou bom uso dos talentos divinos.

INTERPRETAÇÃO ESOTÉRICA

O aviso para o próximo encontro com o Cristo Interno leva o aspirante à montanha (elevação interna), em meditação e vigília, no convívio com almas afins e a serviço delas (Maria foi à região montanhosa da Judéia).

O “Magnificat” é um canto de alegria da alma que sente o influxo da graça, convicta da pequenez e sua personalidade em contraste com a grandeza ilimitada no amor divino que se designa visitá-la. Canta o próximo encontro e união com o Cristo Interno, acrescentando louvores pelos benefícios recebidos em vidas anteriores, pelas correções benditas, lembrando que devemos ser desapegados (pobres) e evitar a cobiça (riquezas matérias) para exercermos a justa administração dos talentos divinos e alcançarmos a Graça.

Maria ficou três meses com Izabel (até nascer João). Isto representa a preparação para levedar as três medidas de farinha (purificação dos corpos mental, emocional e físico) em convívio e mútuo incentivo com almas elevadas, servindo e sendo servido. Mas deve voltar à sua casa, isto é, deve continuamente buscar o seu íntimo, em introspecção, com exercício individual até que ocorra o nascimento.

21 de mai. de 2022

DIÁLOGOS POÉTICO-MÍSTICO-GNÓSTICOS - XII


EXPLICAÇÃO NECESSÁRIA (do autor no início da obra)

Apesar de o autor ser um estudioso da filosofia rosacruz, dada ao mundo por Max Heindel, este trabalho não foi escrito com qualquer pretensão doutrinária de acrescentar alguma nova ideia ou tese na mística ou na gnose, e muito menos a leviandade de corrigir algo. Representa tão-só uma conjugação do espírito poético do autor e da síntese de conhecimentos que foi adquirindo e que os vê e sente, obviamente, a seu modo, na referida forma poética – amiúde também em tom aforístico – e sob a forma de diálogo. O leitor por certo, vai observar que quem assim escreve, para além dos evangelhos e outros textos canónicos também tem dado atenção aos escritos apócrifos que, seja qual for a ideia que se tenha deles, vieram lançar não diremos uma nova visão do cristianismo, mas uma visão porventura mais completa e por isso mais esclarecedora. Possa o amigo leitor, no ambiente poético criado, intuir as verdades (não propriamente aqui explicitadas), mas que existem por todo o sempre na sua objectividade, e que só a nossa muita ignorância lhe dá a subjectividade necessária para ir percorrendo caminho. 

12 de fev. de 2022

Bastar-se a Si Mesmo

por Gilberto Silos

Ref.: Lucas (12: 21 a 24)

No capítulo 12 de Lucas, Cristo nos adverte contra a ansiosa solicitude pela vida material quando afirmou: "Não estejais ansiosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer nem quanto ao corpo pelo que haveis de vestir, pois a vida é mais do que o alimento e o corpo mais do que o vestuário".

O cristianismo nos oferece lições práticas de vida, em que virtudes como a perseverança e a coragem são enaltecidas e apontadas como fatores de evolução. Mas, esse estado de espírito de quem encara a vida com otimismo e esperança não se adquire apenas através de leitura. É preciso vivência, ou melhor, é preciso viver. Esse caráter não se forja em pouco tempo, porém, cresce ao longo de uma caminhada sempre amena.

Em primeiro lugar, passamos pela experiência. Posteriormente damos conta do processo de desenvolvimento em nós mesmos. O indivíduo emerge da infância para a adolescência e desta para a maturidade, Em cada um desses momentos críticos vemos que as atividades e interesses da fase anterior são substituídas pelas da atual. Observamos como a natureza está preparando o organismo para o seu novo papel no mundo. Na verdade, ele nos reconcilia com as novas exigências, mostrando-nos as recompensas do período que se aproxima e que vai substituir o que vamos abandonar. Importa é, durante as asperezas da caminhada, não permitirmos que o medo, a inércia e a timidez inibam nossas potencialidades. Max Heindel afirmou enfaticamente que o "único fracasso é deixar de lutar". Somos espíritos, partes integrantes de Deus, e como tal, herdeiros de todos os Seus atributos. Aceitar coisas tais como derrotas, doenças e desânimo, é negar nossa herança divina. Em última análise, é um sacrilégio pensarmos na hipótese de viver sem Deus. Nele nos movemos vivemos e temos nosso ser. Deus é tudo em todos.

O homem deste final de século não consegue ser otimista, deixando-se influenciar pela transitoriedade das situações não lhe passa pela cabeça que tecla essa aparente confusão nada mais é do que a gestação de um bem maior.

Segundo Schopenhauer raramente pensamos sobre o que temos, mas sempre sobre o que nos falta. Será que o que temos não é suficiente para vivermos uma vida plena? Aquilo que lamentamos nos faltar, por acaso é tão importante assim?

O que realmente deve ser importante para nós? A resposta é individual, pois frequentemente alicerça-se em conceitos quase sempre subjetivos. O que é importante e vital para mim, pode ser irrelevante para você. Aquilo que e verdadeiramente importante deve estai no interior do homem. Não pode consistir de aparências ou exterioridades, mas de valores individuais imponderáveis, provenientes de uma vida amadurecida.

 Isto não é uma vã filosofia. A realidade dos fatos já provou que e verdade Uma das coisas que mais impressionou o mundo a respeito de Mahatma Gandhi foi a foto de todos os seus bens materiais quando do seu desenlace: um par de óculos, um par de sandálias, alguns trajes simples, uma roda de fiar e um livro O Mahatma inspirara-se também, na vida de Henry David Thoreau, o "pai da desobediência civil" e nas palavras que esse americano proferiu: "A riqueza de um, homem mede-se pelas coisas que é capaz de deixar para trás". O ser humano ansioso por satisfazer suas necessidades é como uma criança: precisa e quer tudo. Quando amadurece através de uma vida inspirada em princípios espirituais, transforma-se num ser que não necessita virtualmente de nada, porque tudo já é naturalmente seu, pela sua própria origem divina.