REF. Lucas 9:62
"E Jesus lhe disse: Ninguém, que lança mão do arado e olha para trás, é apto para o reino de Deus."
Para muita gente ainda contínua um mistério o significado
real de a mulher de Lot ter se convertido em uma estátua de sal, após
contemplar a destruição de Sodoma e Gomorra. É bom recordar que isso aconteceu
porque ela olhou para trás, saudosa. ...
Segundo o Velho Testamento, as duas cidades celebrizaram-se
como verdadeiros núcleos de licenciosidade. Eram, portanto, um centro de
degeneração.
Encontramos aí um interessante simbolismo ou alegoria.
Não se trata apenas de um relato bíblico. É algo muito mais profundo. Mais uma vez deparamos com a história
do próprio homem, sempre às voltas com os desafios inerentes ao caminho
do progresso espiritual.
Sodoma e Gomorra simbolizam o elemento que, por se
corromper, perdeu a sua utilidade, e o seu lugar, dentro do processo evolutivo.
A mulher de Lot representa aquele tipo humano incapaz de libertar-se de hábitos
nocivos e ideias ultrapassadas.
Insensível a estágios ou vivências mais elevados, apega-se a estruturas
bolorentas e enferrujadas, embora só possa sofrer prejuízos com essa
resistência. Olhando para trás, demonstrou sua ligação com aqueles restos que
se consumiam, ao invés de encetar uma nova busca.
É uma
perfeita alegoria à cristalização.
O homem comum, é
bom ressaltar, traz consigo uma tendência à acomodação. Se, do ponto de
vista material, a vida que leva é relativamente "boa", opor-se-á
tenazmente, a qualquer tipo de mudança, mesmo salutar à sua formação
espiritual.
A acomodação, diante de qualquer análise, surge como algo
pernicioso. No Universo tudo se encontra em constante movimento, sempre em
direção a degraus superiores. A inércia, por ser contrária às leis naturais,
gera reações às vezes violentas. O homem, por ser elemento integrante do
contexto cósmico, não deixa de estar sujeito a essa lei.
As transformações constituem uma necessidade evolutiva.
São uma manifestação da Lei de Deus, sempre objetivando abir mais amplos
horizontes para a humanidade. O homem sofre porque resiste às transformações,
insistindo em permanecer impenetrável aos raios da Luz Divina. Às vezes
contempla a estrutura em que viveu durante multo tempo ruir fragorosamente.
Mesmo assim, cede á tentação de olhar para trás observando demorada e
nostalgicamente os escombros. É um indicador de sua cristalização. O curso da
própria vida acabará por reintegrá-lo ao progresso. Isso, todavia, ocorre,
quase sempre, à custa de muito sofrimento.
É importante "tomar do arado e não olhar para
trás", como exortou o Cristo .
Conta-se que o conquistador romano Júlio César, quando
aportou nas ilhas britânicas, ordenou a seus soldados que queimassem os navios.
Assim, ninguém pensaria em voltar, recuando diante de um inimigo até então
desconhecido. Lutariam ou sucumbiriam.
A vida costuma encaminhar-nos a situações complexas, em que o recuo se
afigura impossível. Segurança interior, autoconfiança, fé, coragem, capacidade
de adaptação, são testadas nessas ocasiões.
Temos que estar alertas e preparados para as mudanças.
Elas acontecem quando menos esperamos.
Todos nós somos dotados de talentos, em maior ou menor
grau de desenvolvimento. O uso desses dons determina nosso crescimento. Há
ocasiões em que Deus requisita nossos préstimos em Sua Seara. Essa convocação
divina pode implicar em mudanças, talvez até radicais, em nossas vidas.
Atenderemos ao chamamento de nosso Divino Pai, ou continuaremos com a nossa já viciada rotina?
Não importa se somos inconscientes disso ou se nos
encontramos acomodados, indiferentes ao sofrimento do mundo. Cedo ou tarde
seremos chamados a servir. No Início talvez até resistamos. Mas chegará o
momento da decisão, em que nossas existências tomarão outro rumo. Saulo era um
ferrenho perseguidor dos cristãos. Na estrada de Damasco transformou-se:
“Saulo, Saulo, por que me persegues? Duro é para ti recalcitrar contra os
aguilhões." Saulo transformou-se em Paulo, assumindo uma nova realidade.
Abandonou o invejável "status" de doutor da Lei. Teve a coragem de
deixar os de seu credo. Renunciou suas amizades e suas posses, para abraçar as
idéias do nazareno, um misto de blasfemo e impostor no entender dos fariseus.
É preciso, entretanto, una férrea disposição para
atravessar as agruras dessa fase de transição. Incompreendido, injustiçado,
vilipendiado até, o aspirante há de perseverar. Terá muita luta pela frente,
sem dúvida. Mas a crueza da porfia não deve abatê-lo. É duramente provado. Cai.
Ergue-se. Fracassa novamente. Anima-se de esperança. Aflige·se mortalmente com
a decepção. Ascende mais uma vez. Na experiência renova-se. O mundo dele
necessita. O Cristo necessita dele. Deus nele habita. Não há razão para
temores. Vive na fonte do eterno Bem.
O caminho do apostolado é assim mesmo. Exige mudanças, Crucifica o eu inferior. É como o
campanário de uma igreja: largo na base, estreitando-se à medida que sobe. No
cume só resta a cruz. Não se pode olhar para baixo, para trás. Só resta subir
sempre...
De um editorial da revista Serviço Rosacruz, agosto de 1978
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