28 de mai. de 2022

A Visita de Maria - Uma Interpretação Esotérica


Ref.: Lucas (1: 24 a 56)

Cumprindo a ordem de Gabriel, Maria parte em ajuda a Izabel.

À saudação de Maria, a criança, no ventre de Izabel, “dá saltos de alegria”. Tertuliano, Orígenes, Irineu, Ambrósio e o teólogo Suarez, afirmam que João Batista, já no ventre, tinha o uso da razão. Isto é mais lógico e natural que a “intervenção divina” mencionada por Agostinho. De fato, Max Heindel esclarece: quando um espírito alcança um elevado grau evolutivo já começa a formar conscientemente os seus veículos, no ventre da mãe, em vez de deixar que esse trabalho seja feito inconscientemente pela genitora. Ora, com a consciência que possuía (reencarnação de Elias), João Batista (ainda no ventre de Izabel) exprimiu sua alegria ao encontrar com os companheiros Iniciados, que estavam encarnados como Maria e Jesus (no ventre de Maria).

Izabel, como Iniciada essênia, também não tinha dificuldades em saber que Maria se achava grávida (vers. 42), embora de poucos dias e, por isso, externamente imperceptível.

A resposta de Maria é um cântico maravilhoso, conhecido em toda a cristandade como “Magnificat”, reproduzindo pensamentos do Velho Testamento, sobretudo dos Salmos. Seu início ressalta a diferença entre o espírito e a alma, que o estudante rosacruciano deve distinguir bem. Essa mesma distinção entre espírito e alma se acha em Jó 12:10 Velho Testamento); e em Tessalonicenses 5:23, Hebreus 4:12 (Novo Testamento).

A humildade de Maria que se julgava pequena escrava, não é contradição ao seu regozijo de ser chamada bem-aventurada por todas as gerações. Escravo de Deus não é o que seja forçado a isso, mas o que voluntariamente se submete ás leis divinas, sabendo que nisso está a verdadeira liberdade. Como disse Paulo: “ Lá onde habita o espírito (vivência elevada), é que existe a liberdade” (II Cor. 3:17). Ao contrário, o ser mundano que se julga livre não pode fugir das leis mantenedoras da harmonia universal que lhe trazem o justo corolário de sua ignorância: o sofrimento.

O reconhecimento de que Deus é poderoso, mas ao mesmo tempo exerce misericórdia, de geração em geração (através dos renascimentos), é uma expressão de louvor. Tem, sentido idêntico ao Salmo 103:17 – não de temor, mas de fidelidade e respeito.

Os versos 51 a 53 estão conforme I Reis 2:5-7; Eclesiastes 10:14; Salmos 34:10-11; 107:9, 148:6; e Jó 5:11, 12:19 e 22:9. Estas citações de Lucas e do Velho Testamento constituem mais uma defesa ao Renascimento, pois dificilmente sucede que os poderosos sejam derrubados e humildes exaltados, do ponto de vista material. O abuso ou mérito de uma vida é que trazem a consequência inevitável em futura encarnação, pelo mau uso ou bom uso dos talentos divinos.

INTERPRETAÇÃO ESOTÉRICA

O aviso para o próximo encontro com o Cristo Interno leva o aspirante à montanha (elevação interna), em meditação e vigília, no convívio com almas afins e a serviço delas (Maria foi à região montanhosa da Judéia).

O “Magnificat” é um canto de alegria da alma que sente o influxo da graça, convicta da pequenez e sua personalidade em contraste com a grandeza ilimitada no amor divino que se designa visitá-la. Canta o próximo encontro e união com o Cristo Interno, acrescentando louvores pelos benefícios recebidos em vidas anteriores, pelas correções benditas, lembrando que devemos ser desapegados (pobres) e evitar a cobiça (riquezas matérias) para exercermos a justa administração dos talentos divinos e alcançarmos a Graça.

Maria ficou três meses com Izabel (até nascer João). Isto representa a preparação para levedar as três medidas de farinha (purificação dos corpos mental, emocional e físico) em convívio e mútuo incentivo com almas elevadas, servindo e sendo servido. Mas deve voltar à sua casa, isto é, deve continuamente buscar o seu íntimo, em introspecção, com exercício individual até que ocorra o nascimento.

21 de mai. de 2022

DIÁLOGOS POÉTICO-MÍSTICO-GNÓSTICOS - XII


EXPLICAÇÃO NECESSÁRIA (do autor no início da obra)

Apesar de o autor ser um estudioso da filosofia rosacruz, dada ao mundo por Max Heindel, este trabalho não foi escrito com qualquer pretensão doutrinária de acrescentar alguma nova ideia ou tese na mística ou na gnose, e muito menos a leviandade de corrigir algo. Representa tão-só uma conjugação do espírito poético do autor e da síntese de conhecimentos que foi adquirindo e que os vê e sente, obviamente, a seu modo, na referida forma poética – amiúde também em tom aforístico – e sob a forma de diálogo. O leitor por certo, vai observar que quem assim escreve, para além dos evangelhos e outros textos canónicos também tem dado atenção aos escritos apócrifos que, seja qual for a ideia que se tenha deles, vieram lançar não diremos uma nova visão do cristianismo, mas uma visão porventura mais completa e por isso mais esclarecedora. Possa o amigo leitor, no ambiente poético criado, intuir as verdades (não propriamente aqui explicitadas), mas que existem por todo o sempre na sua objectividade, e que só a nossa muita ignorância lhe dá a subjectividade necessária para ir percorrendo caminho.