2 de nov. de 2017

Sobre os (dois) Dias Mais Importantes De Nossas Vidas

por Jonas Taucci
Vemos acima, a pintura “Cristo e o centurião”. Do pintor italiano Paolo Veronesi (Verona, 1.528-1.588), que se encontra no Museu Nelson Atkins da Arte, cidade de Kansas, estado do Missouri (EUA), feita por volta do ano de 1.575.
Esta pintura refere-se ao evangelho de Mateus (08:05 a 13):

E, entrando Jesus em Cafarnaum, chegou junto dele um centurião, e lhe rogando disse: Senhor, o meu criando jaz em casa paralítico e violentamente atormentado, E Jesus lhe disse: Eu irei, e lhe darei saúde. E o centurião, respondendo, disse: Senhor, não sou digno de que entres debaixo de meu telhado, mas dize somente uma palavra, e meu criado será curado. Pois também eu sou homem sob autoridade, e tenho soldados às minhas ordens; e digo a este: Vai e ele vai; e digo a outro; Vem, e ele vem: e ao meu criado: Faze isto, e ele o faz., E se maravilhou Jesus, ouvindo isto, e disse aos que o seguiam: Em verdade vos digo, que nem mesmo em toda Israel encontrei tanta fé. Mas eu vos digo que muitos virão do oriente e do ocidente, e assentar-se-ão à mesa com Abrão, Isaque e Jacó no reino dos céus, e os filhos do reino serão lançados nas trevas exteriores: ali haverá pranto e ranger de dentes. E então disse Jesus ao Centurião: Vai, e como creste te seja feito. E naquela mesma hora o seu criado ficou curado. 

Antes das considerações à luz dos Ensinamentos Rosacruzes, seria oportuno tomarmos conhecimento de certos aspectos históricos importantíssimos desta passagem bíblica;

***Centurião (oficial militar do exército romano, responsável por comandar uma centúria: parte importante de uma legião).

***Roma, a senhora do mundo no 1º século D.C.(à época de Cristo os exércitos romanos ocupavam parte da Europa, África e Oriente, estendendo-se às terras por onde Cristo viveu e pregou).

***Religiões praticadas pelo Império Romano (consideradas pagãs pelos primeiros cristãos).

***Os invasores (assim eram chamados os romanos, havendo várias revoltas para sua expulsão nas regiões ocupadas).

Estas palavras de Cristo: Nem mesmo em toda Israel encontrei tanta fé”, intriga a dois milênios os teólogos cristãos, pois a fé encontrada por Cristo - fica evidente - veio de um centurião romano, consequentemente:

*** Um invasor.

*** Uma pessoa pagã.

***A fé do centurião que (segundo Cristo!), supera mesmo a dos discípulos, seguidores e frequentadores do Templo.

***De alguém, originalmente “fora” do círculo religioso de onde Cristo pregava.
*** Resumindo: um “estrangeiro pagão” em “terras santas(Israel).

Mas, Cristo não deu a mínima importância a tudo isto

Identificou o mais importante: a preocupação do centurião com seu semelhante, e sua enorme fé.

Não há nada – em todo o universo – superior a isso!

Fazer parte de uma religião, doutrina, seita ou filosofia, “estar neste meio, sem a devida utilização e prática do que (apenas...) aprendemos à serviço dos desassistidos, incorre numa enorme ilusão e para nós – aspirantes rosacruzes - no total menosprezo ao nosso Cristo Interno.

Nossa (tão somente) filiação à Fraternidade Rosacruz e nos tornarmos (tão somente) probacionistas não será garantia de um desenvolvimento interno.

São muitos os que estudam somente para seu próprio benefício e não cultivam a fraternidade para com os demais. Sem dúvida, é o serviço que executamos e a sinceridade com que praticamos os ensinamentos que nos tornam, para o mundo, exemplos vivos desse amor fraternal, a qual Cristo se referiu como sendo a realização de todos os mandamentos). Max Heindel, Carta aos Estudantes # 03.

A palavra probacionista (1) deriva do latim probo (muito utilizada em literatura jurídica) que significa honesto. O verbo probare refere-se a agir com honestidade, retidão.

Na Fraternidade Rosacruz, a palavra probacionista também está associada com as provas” pelas quais o aspirante encontra em sua jornada na senda do caminho Crístico, contudo estas provas não serão de forma alguma:

*** Escrita, de múltipla escolha.

*** Chamada oral; avaliação de conhecimentos.

*** Redação sobre algum tema sobre os Ensinamentos Rosacruzes.

*** Cálculos perfeitos de configurações astrológicas.

Serão provas comportamentais (nosso probare de cada dia), e das mais sutis que possamos imaginar, onde nossos atos (ou omissões) com nossos irmãos, irá determinar o grau de amadurecimento interno.

O florescimento de nossas sete rosas internas, muito estudado pelo aspirante rosacruz, constitui-se numa obra alquímica paradoxal:

- Impossível alguém fazer isto por nós; trata-se de um trabalho individual.
- Impossível realiza-la sem nos relacionarmos com nossos semelhantes.

Mark Twain (1.835-1.910) escritor americano, nos deixou esta bela frase:

(01) Sobre o Probacionismo: O Caminho Rosacruz compreende sete etapas de desenvolvimento: Estudante Preliminar, Estudante Regular, Probacionista, Discípulo, Irmão Leigo, Adepto e Irmão Maior. A superação de cada um desses estágios corresponde a uma verdadeira Transfiguração.

Durante as primeiras etapas, de Estudante a Probacionista, o Aspirante cursa as matérias básicas e edifica os fundamentos da sabedoria e da disciplina de seus Corpos. Assimilando o valor educativo dos ensinamentos Rosacruzes, adquire a capacidade de direcionar suas energias e talentos a propósitos cada vez mais elevados. Consciente de seus deveres morais e espirituais, procura dominar as forças obscuras de sua vida inferior, até conhecer os primeiros vislumbres da expansão do Eu.

Muitos anos e, às vezes, vidas de trabalho, de sacrifícios e esmorecimentos, de coragem e desânimo, de quedas e levantamentos, de regozijo e desespero, marcam essa fase preparatória. Há momentos de ofuscante luz que sucedem densas trevas, em ciclos de aprendizagem.

Mas, todos os esforços e o progresso obtido são observados desde os Mundos invisíveis pelos exaltados Guias. Um dia, os vislumbres convertem-se em viva realidade, os obscuros contornos da visão de probacionista, adquirem a nitidez do discípulo. Surge um ser humano novo em novidade de espírito.

As obras da carne, os zelos excessivos, o amor próprio, a vaidade, o espírito sectarista, ontem propriedades características do ser humano primário, desvanecem-se aos poucos.
Não imaginemos, contudo, que atingido o grau de discípulo, o novo ser humano entra num período de contemplação estática e absorvente. Pelo contrário, os poderes da ação e do trabalho estão presentes e mais atuantes do que nunca. Seu pensamento permanece ocupado às vinte e quatro horas do dia, com "tudo o que é verdadeiro, honesto, justo, santo, amável e de boa fama" (Filipenses 4-8).

É um novo ser desabrochando. Seus familiares e amigos sentem a força propulsora de sua vontade na dedicação às causas justas e nobres. Beneficiam-se desses esforços admiráveis, dispendidos a custa de, não raro, verdadeiros holocaustos e da extrema renúncia aos frutos do êxito.

Que poderemos, agora, imaginar das três etapas superiores: Irmão Leigo, Adepto e Irmão Maior? Iluminados nas transcendentes alturas do Bem, do Belo e do Verdadeiro, são inconcebíveis as vivências e sublimidades de seus Espíritos. Max Heindel nos deixa antever algo da fecundidade de suas vidas: "Os Irmãos Leigos vivem em diferentes partes do mundo ocidental, recebendo uma ou mais Iniciações nas Escolas de Mistérios Menores". São capazes de abandonar o Corpo Físico conscientemente, para assistir ou participar dos trabalhos no Templo da Ordem Rosacruz. Os Adeptos são graduados de uma Escola de Mistérios Menores, e passaram pela primeira das quatro grandes Iniciações. Segundo os ensinamentos Rosacruzes, o Adepto pode construir novos Corpos físicos por processos ocultos de alquimia espiritual.

Os Irmãos Maiores são graduados das Escolas de Mistérios Menores, e também dos Mistérios Maiores.

É um íngreme caminho a ser percorrido, porém, não há outro mais dignificante. O sofrimento pode vir a ser um companheiro constante nessa gloriosa ascese, surgindo, não obstante, como o prenúncio da morte do velho ser humano.

Max Heindel afirma em sua obra INICIAÇÃO ANTIGA E MODERNA: "O ser humano passa, continuamente, por um processo de purificação, erradicador das substâncias mais inferiores e grosseiras que fazem parte de seus veículos. Com o tempo e mediante a evolução, esse trabalho de espiritualização tornará "nossa carne" transparente e radiante. Radiante como o rosto de Moisés, o corpo de Buda e o Cristo na Transfiguração". (Editorial da revista “Serviço Rosacruz” de outubro – 1.982 da Fraternidade Rosacruz de São Paulo).

30 de set. de 2017

A Criação da Eva de Uma Costela de Adão - Um Grande Erro de Tradução

por Delmar Domingos de Carvalho
Errar é próprio do ser humano.

Infalível somente o Absoluto…

Como se sabe, ou se deve saber, não existe nenhuma linha do texto original do Antigo Testamento.

Por isso, a colocação de uma vogal no texto hebraico, consonantal, pode originar erros mais ou menos graves.

Este é um dos casos.

Max Heindel em algumas das suas obras esclarece este assunto com a sua Luz profunda.

Também, no Curso da Bíblia administrado pela THE ROSICRUCIAN FELLOWSHIP DE MAX HEINDEL, é ensinado que a palavra tsela deve ser traduzida por “ lado”.

Considera “ grotesca” o modo de realizar a separação dos sexos, tanto nas versões bíblicas como no texto massorético.

Os seres humanos eram hermafroditas, afirma, sendo necessário a divisão dos sexos por motivos evolutivos.

No início do embrião humano é ainda bissexual, como era o ser humano primitivo.

A divisão sucedeu na Época Lemúrica, do misterioso continente Um, há mais ou menos dez milhões de anos. Seguiu-se a Época Atlante, cujo continente ficou submergido por vários dilúvios, e a actual Época, a Ária, que terá começado há cerca de um milhão de anos.

Padre António Vieira, num dos seus sermões, esclareceu que Eva foi criada do “ lado”, para que ambos, mulher e homem, se amassem, cooperando sem que houvesse hegemonia de um perante o outro. Se fosse criada da cabeça, nesse caso, estaria tentada a mandar no homem; ao invés, se saísse dos pés, então o homem ficaria com a inclinação para a escravizar. Portanto, foi criada do lado, do coração, para que o amor os unisse.

Lembremos que Fernando Pessoa considerou Viera como um Adepto, alto iniciado, no caminho da Rosacruz até à libertação final da matéria.

Por sua vez, o nosso grande Amigo, como dos nossos filhos, e Mestre, Francisco Marques Rodrigues, ensinou-nos que a tradução correcta deve ser a divisão da “célula,” que era bissexual, hermafrodita, passando a ser separada, dividida em sexo feminino e masculino.


Finalmente, há opiniões científicas, designadamente, na Engenharia Genética, que considera como as primeiras grandiosas experiências genéticas. Neste acto divino consideram que temos a clonagem humana!

CABALA
Na numerologia judaica a palavra EVA tem o valor de 19=1+9=10=1=UNIDADE.
Por isso, a Eva encerra a União, a Harmonia, numa ligação a Vénus-Úrano.
Significa um Ser que vivifica, que existe.

9 de set. de 2017

O Senso de Valor

"A Parábola dos Talentos", século XVII. Willem de Poorter
REF. várias passagens

"O Senhor, contudo, disse a Samuel: "Não considere sua aparência nem sua altura, pois eu o rejeitei. O Senhor não vê como o homem: o homem vê a aparência, mas o Senhor vê o coração" (I Samuel, 16:7).

A passagem citada, do Velho Testamento, foi extraída do trecho em que Jeová manda Samuel escolher seu sucessor entre os sete filhos de Jessé. Samuel julgava que o eleito seria dos mais fortes e de mais belo parecer. No entanto, foi escolhido David, rapazito ainda, que logo depois prostrou o gigante Golias com uma pedra atirada por uma funda.

Eis um belo tema de meditação. Influenciados, a todo passo, pelas opiniões da sociedade materialista em que vivemos, somos levados a avaliar as coisas segundo suas aparências, quando Deus nos solicita buscar os valores internos.

Na antiga Grécia o conceito de elite era mais correto. Os realmente mais sábios e virtuosos pontilhavam na vida política, científica, artística e social. Sabemos que Xantipa, esposa de Sócrates, tinha violentas discussões com o sábio, porque ele trazia fama e não dinheiro para casa. Ainda hoje existem pessoas de grande valor, em todos os campos, que mal ganham para suas necessidades. Poucos são os que se guindam na opinião pública, como Einstein e Schweitzer (Albert Schweitzer foi um teólogo, músico, filósofo e médico alemão; foi laureado em 1952 com o Prêmio Nobel da Paz, como humilde homenagem a um "grande homem").

Heróis anônimos, aos milhares, estão por aí, participando da elite de Deus, mas, não da dos seres humanos. Todos os dias vemos falsos destaques serem agraciados por falsas honrarias. E, como dizem os Evangelhos: "quem já recebeu seu galardão dos seres humanos, nada tem a receber de Deus" (Mt 6; 2).

Não podemos negar que o simples fato de um indivíduo se diplomar médico, engenheiro, etc., pressupõe esforço e mérito individual; que para chegar a determinado posto deve ter provado o desenvolvimento de qualidades incomuns, a menos que se haja guindado por apadrinhamento. Mas não basta isso. A conquista de maiores faculdades ou bens sejam quais forem suas naturezas, se de um lado acarreta mérito individual, de outro lado atrai maiores responsabilidades, porque "a quem muito foi dado, muito lhe será exigido" (Lc 12; 48). O uso que fará então, das faculdades ou bens que conquistou é que provará seu verdadeiro valor perante Deus. "De que vale ganhar o mundo e perder sua alma? " (Mc 8; 36).

O abuso de autoridade, faculdades e propriedade tem trazido muito sofrimento à humanidade. Somos apenas despenseiros dos bens que o Senhor põe a nossa disposição. Veja-se na parábola dos talentos (Mt 25; 20-25) em que o Senhor "deu mais ao que multiplicou seus talentos e tirou o único que tinha dado ao que, por medo de perdê-lo, o havia enterrado". A Fama, o Poder, o Dinheiro e o Amor são os meios mais usados atualmente pelos Senhores do Destino para adiantar a evolução humana. Por um deles somos capazes dos maiores sacrifícios, vidas inteiras. Mas quem é capaz de renunciar a si mesmo e servir os demais com o mesmo entusiasmo?

Sem exigir tanto, quantas pessoas se dedicam diariamente à prática de virtudes cristãs, pelo menos duas horas? Ou quem ora sinceramente meia hora por dia? 

- Não tenho tempo! – é o que ouvimos constantemente. E lembramo-nos daquela passagem: "onde está o teu tesouro, ali está o teu coração" (Mt 6; 21).

Sabendo isso e não exigindo mais do que podem dar os seres humanos, os Senhores do Destino lhes apresentam os incentivos: da Fama, do Poder, do Dinheiro e do Amor. Em sua conquista tudo fazem e nesse esforço, sem o saberem, vão desenvolvendo qualidades de confiança própria, de persistência, de luta, que mais tarde serão aproveitadas num sentido superior. Quanto ao mau uso que agora fazem disso tudo, sofrerão inevitavelmente as consequências, e seus efeitos saturninos far-lhes-á crescer a alma, pela dor.


Muito mais, contudo, fará o que com o mesmo empenho constrói o mundo para servir seus semelhantes dos mais variados modos, administrando os bens e faculdades com perfeita renúncia de si mesmos. Estes crescerão muito e depressa, recebendo, com toda certeza, progressivamente mais, para verter no mundo, os recursos de Deus, pela evolução de Seus filhos menores.

Cuidemos, pois, de avaliar devidamente as coisas e as pessoas. Muitas vezes o vidro brilha mais do que um diamante bruto. Melhor é não nos iludirmos com as aparências e buscarmos em todos "a divina essência que existe em cada um, pois, isto constitui a verdadeira fraternidade". Melhor dizendo, encaremos cada semelhante como irmão espiritual, com suas virtudes e defeitos. Não sejamos servis com os poderosos e superiores nem déspotas e não fraternais com os inferiores na escala social. Tratemos a todos com a mesma franqueza, sinceridade, amor e prudência, cuidando de merecer, por nossa conduta equânime e coerente, a graça de nos tornarmos dignos de sermos "fiéis administradores dos bens do Senhor".
Publicado na revista Serviço Rosacruz, de maio de 1966

22 de jul. de 2017

O Fardo Leve

por Gilberto Silos

“Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração e encontrareis descanso para vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.” (Mateus 11:28-30)

Nesses versículos se consubstanciam  ensinamentos profundos dos Evangelhos, ou seja, a exortação, o convite, para a aceitação do Cristo como “o caminho, a verdade e a vida”.

“Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos e eu vos aliviarei”!.Estas palavras ecoam por dois mil anos e nunca pareceram tão atuais como nos dias que correm, pois é um convite dirigido à humanidade de todos os tempos.

É evidente que esse convite e essa promessa pressupõem a universalidade e a onipresença do Cristo. Confirmam as palavras de despedida do Mestre: “Eu estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos”.

Esse convite não provém do Jesus humano, o Jesus de Nazaré, individual, habitante de um determinado ponto da Palestina há dois mil anos. Não! É o Cristo Cósmico, o divino Logos, o Verbo feito carne, que nos quer aliviar o peso das limitações do mundo material. Mas, uma atitude é necessária para que o homem tenha o seu “encontro” com esse Cristo aliviador: que procure o divino dentro de si mesmo, que descubra esse Cristo Interno, esse Emanuel (Deus conosco) no seu íntimo. “Não sabeis, porventura, que sois templo do Espírito Santo e que o Espírito de Deus habita em vós?”

Quando o homem se encontrar com esse Cristo Interno e eterno, estará livre de todo sofrimento e abandonará sua cruz? Não! Isso não acontecerá durante sua existência terrestre, porque o plano físico é intrinsecamente limitador. O homem continuará a carregar a cruz de Cristo, mas ele a sentirá incrivelmente mais leve e sua caminhada suave.

À medida que o ser humano encontre a Divindade dentro de si mesmo há uma mudança em seu estado de consciência, o que lhe permite enxergar tudo – a vida, as pessoas, o mundo e suas próprias experiências – de outra forma. Tudo lhe parecerá mais leve e luminoso, pois o homem não percebe as coisas como elas são, mas sim como ele é. Se ele é melancólico, pessimista, rancoroso, as coisas que o rodeiam serão vistas com medo e amargura, o mundo lhe parecerá um “vale de lágrimas”. Se a sua natureza é jovial, otimista e amorosa, o mundo lhe será uma escola repleta de oportunidades de crescimento e auto-superação.

O grande desafio do espiritualista é justamente praticar essa alquimia de transmutar o mundo exterior pela visão do Cristo Interno. Basta que o indivíduo mude e todos os objetos parecerão mudados; o mundo e as pessoas serão outros.

Porém, esse processo de alquimia exige esforço, vontade, dedicação. Não se realiza ao acaso. Ele representa a “busca da Canaã, a Terra Prometida”, a descoberta do Cristo Interno no íntimo de cada ser. A chegada a Canaã obrigou os israelitas, simbolicamente, a realizarem  uma longa e penosa travessia do deserto. Mas o Cristianismo Esotérico ensina que Canaã, a terra que mana leite e mel, se encontra  no próprio deserto da vida terrestre, no aqui e agora. 

Não é o nascer nem o morrer que conduzem o homem a esse estado de consciência paradisíaco, mas o próprio viver. Não há porque esperar o futuro com sua promessa de redenção e paz. Tudo acontece agora, porque o eterno é o agora, o sempre momento presente. É aqui e agora que a cruz e o fardo devem tornar-se leves.

Saiba mais: Ensinamentos de um Iniciado, Cap. XXVI - A Jornada no Deserto

11 de jun. de 2017

Sabedoria Oculta


"Mas falamos a Sabedoria de Deus, oculta em mistério, a qual Deus ordenou antes dos séculos para a nossa glória; A qual nenhum dos príncipes deste mundo conheceu; por­que, se a conhecessem, nunca crucificariam ao Senhor da glória. Mas como está escrito: As coisas que o olho não viu e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem, são as que Deus preparou para os que O amam. Porém, Deus no las revelou pelo Seu Espírito, porque o Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus". (CoríntiosI, 2:5-12)

O fato da Sabedoria de Deus tornar-se oculta e um “mistério” para o ser humano é devido à "queda do homem". Em determinado ponto de sua longa jornada evolutiva septenária, para passar da "consciência coletiva" para uma "consciência própria", a humanidade desviou-se do plano divino original que lhe fora reservado. Com isso cristalizou-se tanto que perdeu o contato consciente com os mundos e Seres agora invisíveis para nós. Ao mesmo tempo e do mesmo modo, perdeu consciência das verdades espirituais relacionadas com sua origem e peregrinação na matéria.

Anteriormente, em determinado tempo da Época Lemúrica, a consciência do homem estava focalizada nos reinos espirituais. Era inconsciente do processo físico de propagação, do nascimento e da morte do corpo. Quando seus "olhos se abriram", a consciência humana projetou-se para o exterior, em relação com os fatos deste mundo físico. As condições, então, se alteraram. Gradualmente, depois disso, sua consciência interna, relacionada com os mundos superiores, e os seres a eles pertencentes, foi desaparecendo.

Entretanto, o nadir da materialidade foi finalmente ultrapassado. Cristo o mais poderoso dos Arcanjos, veio ao mundo, foi crucificado e tornou-se o Espírito Interno de nosso planeta. Do centro da Terra Ele irradia seu poderoso amor, ajudando o homem a eterizar seus corpos, expandir suas faculdades espirituais e assim reaver sua herança perdida. Desse modo a "Sabedoria oculta" ser-lhe-á revelada e o ser humano penetrará, intuitivamente, a essência das coisas que Deus preparou para aqueles que O amam.

A Filosofia Rosacruz descreve o processo intuitivo da seguinte maneira: "À medida que o sangue passa pelo coração, ciclo após ciclo, hora após hora, durante uma vida inteira, imprime as imagens que ele transporta, nos átomos-semente, realizando um registro perfeito da vida que sempre está em contato com o Espírito de Vida, O Espírito do Amor e da Unidade.”

"Portanto, o coração é o lar do amor altruísta."

"Na proporção em que essas imagens passam internamente para o Mundo do Espírito de Vida, onde se encontra a verdadeira Memória da Natureza, para que se tornem conscientes, o homem sensível poderá ir invocando tais imagens de experiências passadas, não pelo processo comum e lento dos sentidos, mas diretamente, por meio do quarto éter, contido no ar que respiramos."

"No Mundo do Espírito de Vida o Espírito de Vida vê muito mais claramente do que nos Mundos mais densos. Lá, (que é aqui também, porque os mundos superiores interpenetram os inferiores), o Espírito de Vida, segundo aspecto de nossa Trindade Interna, está em contato com a Sabedoria Divina e em qualquer situação conhece imediatamente o que fazer, transmitindo a mensagem da apropriada ação, diretamente ao coração, que por sua vez a retransmite rapidamente ao cérebro, por intermédio do nervo pneumogástrico. Assim é que surgem as primeiras impressões- o impulso intuitivo que sempre é bom, porque vem diretamente da fonte de Amor e Sabedoria Cósmica".

Esse processo é instantâneo e tão rápido, que o coração, mais sensível e havendo o recebido de primeira mão, tem seu controle antes que a lenta razão tenha tido tempo para orientar-se. Este primeiro impulso, se realmente intuitivo, é verdadeiro. Segui-Io é um caminho de felicidade para o homem. Mas, no homem comum e pouco alerta, a mente, o raciocínio, muitas vezes condena e sacrifica este primeiro impulso. 
Felizes dos que podem atingir este estado e unir a mente ao coração.

Traduzido da Rays from the Rose Cross (década de 1965) publicado na revista Serviço Rosacruz, de março de 1966

29 de abr. de 2017

A Visita de Maria

por Corinne Heline
REF. Lucas, cap. 1
Assim como a Virgem Maria, outra iniciada feminina da Ordem dos Essênios que avançou grandemente no caminho da realização anímica, foi Isabel, esposa do Sumo Sacerdote Zacarias, mãe de João Batista e prima da abençoada Virgem Maria. Tanto Zacarias como Isabel igualmente como José e Maria, eram Essênios e receberam a anunciação evangélica, sendo os agentes de uma imaculada concepção. Foram eles os instrumentos de expressão de um elevado Ego, descrito pelo Mestre como "o maior dos nascidos de mulher" que renasceu na pessoa de João, o Batista.

As duas, Maria e Isabel, conheciam seus filhos antes deles renascerem, quando ainda se encontravam entre os Anjos do céu. Foi o chamamento anímico desses dois grandes Mestres que despertou os poderes espirituais latentes daquelas mulheres excepcionais: destinadas a lhes servirem, honrosamente de mães na carne. A visita de Maria a Isabel, com as memoráveis semanas que permaneceram juntas em companhia dos Anjos na solene santidade das montanhas e dos campos, foi um superior sucesso do espírito destacado nos registros cósmicos para emulação de todas as demais mulheres do mundo que, em todos os tempos futuros, as desejarem seguir.

Lendo cuidadosamente o Evangelho de Lucas, notar-se-á que o Ego que tomou o nome de João, o Batista, já se encontrava trabalhando com sua mãe, na preparação de seu veículo físico. Ativo e consciente, no ventre de Isabel, como Espírito, percebeu a vinda de Maria e a saudou com alegria. Para esses exaltados Seres não existem barreiras, nem mesmo a da chamada "morte". Funcionam sempre no mais sublime estado de consciência, num contínuo ser e vir a ser.

Isabel e João foram igualmente beneficiados pela visita de Maria. A história da comunhão delas – essas santas mulheres – e os Egos-Mestres que viriam a ser seus filhos carnais, no silêncio das montanhas e dos campos, é uma das mais belas gemas bíblicas que servem de inspiração para as mães da nova era.

 Cada futura mãe é influenciada pelo Espírito que virá, por ela, reencarnar durante os meses de êxtase. A Santa Maria foi particularmente susceptível às tremendas vibrações espirituais do Sumo Mestre Jesus. Ela caminhava com nova beleza e graça. Suas palavras eram um contínuo fluir de Sabedoria que anteriormente não possuía em tamanha proporção e espontaneidade. A radiação da luz que a rodeava (aura) era deslumbrante à visão comum.

No momento em que Maria entrou no jardim de Isabel, esta se achava banhada pelo poder do espírito e saudou aquela como a mãe do Ungido celestial. Também Maria foi levada a uma exaltação de consciência quando percebeu o papel que Isabel iria assumir na vida de seu filho Jesus. Em exaltação e ação de graças, entoou ela estas belíssimas palavras: "Minha alma engrandece ao Senhor".

Durante a visita, Maria usou o aposento e o altar de Isabel e muitas foram as horas de êxtase de comunhão espiritual que as duas santas e futuras mães juntas passaram no adorável e silencioso jardim. Foi assim que elas viveram os três mais importantes meses da época pré-natal, nas montanhas, física e espiritualmente simbolizando a elevação do conhecimento espiritual.

E de onde me provém isto a mim, que venha visitar-me a mãe do meu Senhor?
Pois eis que, ao chegar aos meus ouvidos a voz da tua saudação, a criancinha saltou de alegria no meu ventre.
Bem-aventurada a que creu, pois hão de cumprir-se as coisas que da parte do Senhor lhe foram ditas.
Disse então Maria: A minha alma engrandece ao Senhor,  
Lucas 1:43-46

Zacharias viu, além disso, que seria um grande privilégio seu ajudar a prover um corpo físico para uso de tão grande Espírito, durante sua missão na Terra.

E, respondendo o anjo, disse-lhe: Eu sou Gabriel, que assisto diante de Deus, e fui enviado a falar-te e dar-te estas alegres novas.
E eis que ficarás mudo, e não poderás falar até ao dia em que estas coisas aconteçam; porquanto não creste nas minhas palavras, que a seu tempo se hão de cumprir.
E o povo estava esperando a Zacarias, e maravilhava-se de que tanto se demorasse no templo.
E, saindo ele, não lhes podia falar; e entenderam que tinha tido uma visão no templo. E falava por acenos, e ficou mudo. Lucas 1:19-22

Essas experiências muito elevadas são impossíveis de serem descritas na linguagem humana. Por essa razão os segredos da iniciação devem permanecer velados para muitos. Só podem ser revelados àqueles que se acham aptos a recebê-los. Aqueles que os recebem devem permanecer silenciosos aos que os esperam foram do Lugar Santo, mesmo que eles percebam que ele tenha tido uma visão no Templo.

Tal experiência provoca sempre naquele que a recebe, uma transformação interior que o distingue da média dos homens. Ele passará a difundir uma estranha radiação de sua aura. Suas palavras quer faladas, quer escritas, comunicam uma vibração de vida, cuja descrição é bem difícil fazer-se adequadamente. Suas criações, sejam pela palavra escrita ou oral, sejam por meio de alguma forma artística, levarão sempre infundidos, íntimos significados, reconhecíveis apenas por aqueles que se acham trilhando o mesmo caminho de iluminação interna.

E completou-se para Isabel o tempo de dar à luz, e teve um filho.
E os seus vizinhos e parentes ouviram que tinha Deus usado para com ela de grande misericórdia, e alegraram-se com ela.
E aconteceu que, ao oitavo dia, vieram circuncidar o menino, e lhe chamavam Zacarias, o nome de seu pai.
E, respondendo sua mãe, disse: Não, porém será chamado João.
E disseram-lhe: Ninguém há na tua parentela que se chame por este nome.
E perguntaram por acenos ao pai como queria que lhe chamassem.
E, pedindo ele uma tabuinha de escrever, escreveu, dizendo: O seu nome é João. E todos se maravilharam.
E logo a boca se lhe abriu, e a língua se lhe soltou; e falava, louvando a Deus. 
Lucas 1:57-64

Esta “lenda mística” acrescenta que foi João abençoado com uma belíssima infância e que o espírito de Deus constantemente lhe iluminava a face e as palavras.

Quando Herodes emitiu o decreto que todas as crianças do sexo masculino, até a idade de dois anos, deveriam ser mortas, Isabel tomou seu filho Yohan (João) – o nome da vida, e com ele fugiu para o deserto onde nenhuma pessoa vivia. Os anjos acompanharam-nos nessa jornada e os protegeram. Quanto à Zacharias foi morto pelos soldados defronte ao santuário, depois de lhes haver informado que o menino se encontrava oculto e seguro no deserto.

O ponto essencial das forças do mal, mais ativas nesse tempo, se concentrava na corte de Herodes. Herodes tinha dupla razão para mandar chacinar os inocentes: primeiro porque desejava frustrar o trabalho que as grandes Hierarquias estavam realizando para que se consumasse a salvação do mundo por meio de Jesus. Em segundo lugar, essa matança era uma forma de se conseguir sangue, no qual sabia encontrar a força mágica, a essência vital para a realização de seus propósitos malvados, ainda que a custa de vítimas inocentes e puras.

Tanto os Irmãos da Grande Irmandade Branca como os da Negra tem um método de transferência da essência do sangue para “algo mais”. Essa verdade é escrita no estranho hieróglifo de Abraão, o judeu, descoberto pelo alquimista Flamel. Nele se explica como por meio do massacre de inocentes, foi gerada a força mais tarde empregada por Herodes e sua corte em práticas nefandas.

Sempre houve um íntimo laço anímico entre Maria e sua prima Isabel, bem como entre seus filhos Jesus e João, o Batista. Ao tempo da perseguição de Herodes foi Maria, que em corpo astral,  avisou Isabel para fugir com o menino para o deserto. Passando logo depois nas proximidades desse local, a Sagrada Família alegremente os saudou em espírito.

Quando João,o arauto de Cristo ,era ainda jovem, sua mãe Isabel passou para o “mais além “,ocasião em que o rapaz ficou sob os cuidados de um santo homem do deserto,um iluminado essênio incumbido de prepará-lo para essa missão.

Nem a morte, nem o tempo, nem o espaço físico jamais constituíram barreiras para os Iniciados. Por isso muitas vezes recebeu João a visita de seus pais e tios. E, ambos os meninos, Jesus e João, cresceram, portanto, juntos, em graça e sabedoria.


Esse belo relacionamento de espíritos tornou-se mais forte e vibrante com os anos. Durante sua prisão recebeu João, muitas vezes, a visita de Maria e Jesus. Avisado da aproximação de grande luz que seus olhos espirituais podiam vislumbrar e que, penetrando se difundia por toda a cela, caia João de joelhos, e adoração e reverência. E além dos dois iluminados visitantes estavam hostes de anjos.

Ao chegar o tempo de seu martírio, esse elevado espírito, João, partiu da escuridão para a Luz, num consciente sacrifício, de boa vontade, em nome de seu Senhor. 

Traduzido da Rays from the Rose Cross (década de 1965) publicado na revista Serviço Rosacruz, de setembro a novembro de 1966.

30 de mar. de 2017

Suas Últimas Palavras

REF. Várias passagens dos 4 Evangelistas

A Bíblia é o livro mais lido. Nela encontramos a narração da história, de guerras e exílios de uma nação e finalmente a aceitação de um só Deus pelo ser humano. As palavras pronunciadas por Cristo são as mais reverenciadas em toda a Bíblia. Se buscamos em Seus ensinamentos um sentido interno, nosso esforço é recompensado. Neles encontramos a solução para todos os problemas, o bálsamo para todos os sofrimentos dos quais é herdeira a carne, o homem mortal.

Recordemos Suas últimas palavras como estão gravadas no Novo Testamento, para que possamos comprrender a grandeza de Seu sacrifício. Ele as pronunciou depois da Crucifixão. Morreu pelos pecados de toda a humanidade passando por todas as amarguras que cada ser humano tem que passar, antes que o dia de sua ressurreição pudesse ser uma realidade.

Se Cristo não houvesse sido crucificado no Gólgota, não teria havido um Cristo Ressucitado na bendita manhã da Páscoa. Ele se capacitou para ser o Mestre, guia e ideal da humanidade; o único mediador entre Deus e o homem, depois que bebeu até a última gota, do cálice da dor, e se identificou com cada grau do inferno, de trevas, no interior de cada ser humano. Por isso Ele é a Luz do mundo e trouxe a luz ao mundo e a cada ser individualmente.

Cada acontecimento de Sua preciosa vida, como cada relato da Bíblia, é suceptível de várias interpretações. Podemos pensar que Sua crucifixão simboliza a crucifixão que todo ser humano tem que fazer de sua natureza passional, antes que seu espírito imortal possa exclamar como Ele exclamou: "Consumatum Est" (está consumado).

O Grande Espírito Arcangélico veio à nossa terra desde um plano de luz, de liberdade e de amor submetendo-se compassivamente a todas as limitações para poder entender as lutas e sofrimentos do ser humano e poder ajudá-lo.

A Sexta-feira Santa é o dia mais ignominioso e obscuro do ano. Este dia nos revela quão a meudo o auxiliar inegoísta não é compreendido. Cristo não pode evitar a vileza da crucifixão que Lhe foi imposta pelos mesmos seres a quem veio salvar. Não obstante, Ele terminou Sua missão. Todo servidor leal da cruz será crucificado e coroado de espinhos também, antes que possa fazer resplandecer a luz nas trevas.

Todos conhecem o relato de Sua história como nos é narrada nos Evangelhos. Pilatos, o governador de Judeia, advertido pelo sonho de sua esposa, lavou as mãos dizendo: "Sou inocente do sangue deste justo". Porém os inimigos de Cristo, manifestando um sadismo sem paralelo, pediram que se libertasse a Barrabás e se crucificasse a Ele.

"Que seu sangue caia sobre nós e nossos filhos", responderam a Pilatos. Cristo foi crucificado no Gólgota, entre dois ladrões.

Suas primeiras palavras nos mostram a amorosa consideração que sempre teve para com a mãe de Jesus, e para com o Seu discípulo amado, João. Como em todas as ocasiões Ele se preocupava mais com a dor alheia do que com a sua própria dor:

"Mulher, eis aí o teu filho", disse à mãe e "Eis aí a tua mãe", Ele disse ao discípulo amado, ao vê-los parados em frente à cruz, transpassados de dor, sem poder fazer nada. Com sua infinita compaixão abrandou a dor de seus seres amados, ajudando-os e unindo-os ainda mais.

Durante sua missão na terra Ele havia enfatizado os laços do espírito; porém agora reconhecia a necessidade dos laços familiares. Se nos diz que João levou Maria para sua casa, e durante o decorrer do tempo ela contou a João muitas coisas acerca da vida do Mestre.

"Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem", nos diz Lucas que foi a segunda palavra. Muitos Sermões relacionados a estas palavras têm sido pregados, porém o significado delas até hoje é difícil de entender. A multidão sadista, obscecada elo desejo insano de vê-lo crucificado, certamente não sabia o que fazia. Dominados por um sentimento de violência, exigiam a morte do mais nobre personagem que já havia pisado a terra. Ao ver que se realizavam os seus desejos, só restava a Cristo orar por eles. Se dava conta do muito que o Pai teria que perdoar.

Cristo foi crucificado entre dois ladrões para que fosse completa sua degradação, obrigando-o a repartir a vergonha com eles. Os dois ladrões representavam as duas classes de seres humanos que então, como agora povoam a terra: aqueles que egoisticamente o criticam e diminuem tudo e aqueles que possuem melhor juízo. Um dos ladrões sabia que o homem pregado na cruz não era culpado como eles. Repreendeu a seu companheiro dizendo-lhe: "Não temes a Deus? Nós recebemos o castigo por nossos pecados, porém este homem nada fez". Sabemos quão pronto Cristo prometeu ao ladrão arrependido que estaria com Ele no Paraíso. Nisto podemos encontrar novas esperanças. Não importa a gravidade de nossas faltas, nem quão profundo hajamos descido no mal, temos a promessa "vinde a Mim todos os que estais cansados e oprimidos e Eu vos aliviarei". Tão logo reconheçamos nossos pecados e prometermos lutar para reformarmos e fazer restituições, Ele vem em nossa ajuda, da mesma forma em que ajudou ao ladrão arrependido na Cruz. "Hoje mesmo estarás comigo no Paraíso".

No Evangelho de São Mateus encontramos a quarta palavra. Lemos que os que passavam o injuriavam. Também os sacerdotes, os escribas e anciãos mostravam uma satisfação de gente sem alma; "Se és filho de Deus, desce da cruz" Lhe diziam.

"Deus meu, Deus meu, porque me desamparaste?" clamou Cristo ao ver a degradação a que era arrastado o espírito no interior do ser humano. Pensava que talvez havia fracassado no esforço por elevar a humanidade a um nível mais alto de consciência. A Luz perdida para a humanidade, o fez lançar este grito. Cada vez que um ser humano cede à tentação, e cai nas garras de sua natureza inferior, distanciando-se de seu Eu superior, abandona a Cristo em seu interior, e ouve sua voz de desalento "Porque me desamparaste?"

Depois destes acontecimentos, conhecendo Cristo que sua mis­são havia terminado disse: "Tenho sede." Todo ser humano também tem que suportar, além das torturas mentais e emocionais, agonia das necessidades do corpo físico.

A obscurirdade sobre a terra era total. O véu do Templo se rasgou de alto a baixo, esse véu que os Espíritos de Raça haviam colocado para que os mistérios do Templo e do sacerdócio fossem sempre privilégio somente para alguns poucos escolhidos. Agora ficava aberto o caminho para Deus a todos os humildes sem intervenção do Templo nem dos seus sacerdotes. Foi então quando a figura torturada do Salvador lançou seu grito de triunfo: "Está consumado."

Os ensinamentos ocultos nos dizem que foi neste momento que a força de Cristo cobriu totalmente a terra iniciando milhões de seres humanos no caminho do amor e da boa vontade.

"Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito." E tendo dito isto, Cristo expirou. Havia terminado Seu ministério no plano físico, mostrando-nos por meio de um grande sacrifício e seus sofrimentos externos, o caminho, para que todo aspirante sincero possa tomar sua cruz e seguí-Lo.

Na cruz encomendou seu espírito ao Pai. Depois de Ressurreição disse à Maria Madalena que subia ao Seu Pai e a nosso Pai.

Com os corações transbordantes de júbilo e gratidão, nos damos conta de que Ele nos mostrou o caminho e tornou possível que em cada manhã de Páscoa o Amor Divino se derrame sem limites sobre todos nós.

Como Cristos Ressuscitados cada um de nós se elevará eventual­mente quando termine sua Semana da Paixão.

Traduzido de uma lição da Sede Mundial e publicado na revista Serviço Rosacruz, julho, 1964