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28 de mai. de 2022

A Visita de Maria - Uma Interpretação Esotérica


Ref.: Lucas (1: 24 a 56)

Cumprindo a ordem de Gabriel, Maria parte em ajuda a Izabel.

À saudação de Maria, a criança, no ventre de Izabel, “dá saltos de alegria”. Tertuliano, Orígenes, Irineu, Ambrósio e o teólogo Suarez, afirmam que João Batista, já no ventre, tinha o uso da razão. Isto é mais lógico e natural que a “intervenção divina” mencionada por Agostinho. De fato, Max Heindel esclarece: quando um espírito alcança um elevado grau evolutivo já começa a formar conscientemente os seus veículos, no ventre da mãe, em vez de deixar que esse trabalho seja feito inconscientemente pela genitora. Ora, com a consciência que possuía (reencarnação de Elias), João Batista (ainda no ventre de Izabel) exprimiu sua alegria ao encontrar com os companheiros Iniciados, que estavam encarnados como Maria e Jesus (no ventre de Maria).

Izabel, como Iniciada essênia, também não tinha dificuldades em saber que Maria se achava grávida (vers. 42), embora de poucos dias e, por isso, externamente imperceptível.

A resposta de Maria é um cântico maravilhoso, conhecido em toda a cristandade como “Magnificat”, reproduzindo pensamentos do Velho Testamento, sobretudo dos Salmos. Seu início ressalta a diferença entre o espírito e a alma, que o estudante rosacruciano deve distinguir bem. Essa mesma distinção entre espírito e alma se acha em Jó 12:10 Velho Testamento); e em Tessalonicenses 5:23, Hebreus 4:12 (Novo Testamento).

A humildade de Maria que se julgava pequena escrava, não é contradição ao seu regozijo de ser chamada bem-aventurada por todas as gerações. Escravo de Deus não é o que seja forçado a isso, mas o que voluntariamente se submete ás leis divinas, sabendo que nisso está a verdadeira liberdade. Como disse Paulo: “ Lá onde habita o espírito (vivência elevada), é que existe a liberdade” (II Cor. 3:17). Ao contrário, o ser mundano que se julga livre não pode fugir das leis mantenedoras da harmonia universal que lhe trazem o justo corolário de sua ignorância: o sofrimento.

O reconhecimento de que Deus é poderoso, mas ao mesmo tempo exerce misericórdia, de geração em geração (através dos renascimentos), é uma expressão de louvor. Tem, sentido idêntico ao Salmo 103:17 – não de temor, mas de fidelidade e respeito.

Os versos 51 a 53 estão conforme I Reis 2:5-7; Eclesiastes 10:14; Salmos 34:10-11; 107:9, 148:6; e Jó 5:11, 12:19 e 22:9. Estas citações de Lucas e do Velho Testamento constituem mais uma defesa ao Renascimento, pois dificilmente sucede que os poderosos sejam derrubados e humildes exaltados, do ponto de vista material. O abuso ou mérito de uma vida é que trazem a consequência inevitável em futura encarnação, pelo mau uso ou bom uso dos talentos divinos.

INTERPRETAÇÃO ESOTÉRICA

O aviso para o próximo encontro com o Cristo Interno leva o aspirante à montanha (elevação interna), em meditação e vigília, no convívio com almas afins e a serviço delas (Maria foi à região montanhosa da Judéia).

O “Magnificat” é um canto de alegria da alma que sente o influxo da graça, convicta da pequenez e sua personalidade em contraste com a grandeza ilimitada no amor divino que se designa visitá-la. Canta o próximo encontro e união com o Cristo Interno, acrescentando louvores pelos benefícios recebidos em vidas anteriores, pelas correções benditas, lembrando que devemos ser desapegados (pobres) e evitar a cobiça (riquezas matérias) para exercermos a justa administração dos talentos divinos e alcançarmos a Graça.

Maria ficou três meses com Izabel (até nascer João). Isto representa a preparação para levedar as três medidas de farinha (purificação dos corpos mental, emocional e físico) em convívio e mútuo incentivo com almas elevadas, servindo e sendo servido. Mas deve voltar à sua casa, isto é, deve continuamente buscar o seu íntimo, em introspecção, com exercício individual até que ocorra o nascimento.

12 de fev. de 2022

Bastar-se a Si Mesmo

por Gilberto Silos

Ref.: Lucas (12: 21 a 24)

No capítulo 12 de Lucas, Cristo nos adverte contra a ansiosa solicitude pela vida material quando afirmou: "Não estejais ansiosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer nem quanto ao corpo pelo que haveis de vestir, pois a vida é mais do que o alimento e o corpo mais do que o vestuário".

O cristianismo nos oferece lições práticas de vida, em que virtudes como a perseverança e a coragem são enaltecidas e apontadas como fatores de evolução. Mas, esse estado de espírito de quem encara a vida com otimismo e esperança não se adquire apenas através de leitura. É preciso vivência, ou melhor, é preciso viver. Esse caráter não se forja em pouco tempo, porém, cresce ao longo de uma caminhada sempre amena.

Em primeiro lugar, passamos pela experiência. Posteriormente damos conta do processo de desenvolvimento em nós mesmos. O indivíduo emerge da infância para a adolescência e desta para a maturidade, Em cada um desses momentos críticos vemos que as atividades e interesses da fase anterior são substituídas pelas da atual. Observamos como a natureza está preparando o organismo para o seu novo papel no mundo. Na verdade, ele nos reconcilia com as novas exigências, mostrando-nos as recompensas do período que se aproxima e que vai substituir o que vamos abandonar. Importa é, durante as asperezas da caminhada, não permitirmos que o medo, a inércia e a timidez inibam nossas potencialidades. Max Heindel afirmou enfaticamente que o "único fracasso é deixar de lutar". Somos espíritos, partes integrantes de Deus, e como tal, herdeiros de todos os Seus atributos. Aceitar coisas tais como derrotas, doenças e desânimo, é negar nossa herança divina. Em última análise, é um sacrilégio pensarmos na hipótese de viver sem Deus. Nele nos movemos vivemos e temos nosso ser. Deus é tudo em todos.

O homem deste final de século não consegue ser otimista, deixando-se influenciar pela transitoriedade das situações não lhe passa pela cabeça que tecla essa aparente confusão nada mais é do que a gestação de um bem maior.

Segundo Schopenhauer raramente pensamos sobre o que temos, mas sempre sobre o que nos falta. Será que o que temos não é suficiente para vivermos uma vida plena? Aquilo que lamentamos nos faltar, por acaso é tão importante assim?

O que realmente deve ser importante para nós? A resposta é individual, pois frequentemente alicerça-se em conceitos quase sempre subjetivos. O que é importante e vital para mim, pode ser irrelevante para você. Aquilo que e verdadeiramente importante deve estai no interior do homem. Não pode consistir de aparências ou exterioridades, mas de valores individuais imponderáveis, provenientes de uma vida amadurecida.

 Isto não é uma vã filosofia. A realidade dos fatos já provou que e verdade Uma das coisas que mais impressionou o mundo a respeito de Mahatma Gandhi foi a foto de todos os seus bens materiais quando do seu desenlace: um par de óculos, um par de sandálias, alguns trajes simples, uma roda de fiar e um livro O Mahatma inspirara-se também, na vida de Henry David Thoreau, o "pai da desobediência civil" e nas palavras que esse americano proferiu: "A riqueza de um, homem mede-se pelas coisas que é capaz de deixar para trás". O ser humano ansioso por satisfazer suas necessidades é como uma criança: precisa e quer tudo. Quando amadurece através de uma vida inspirada em princípios espirituais, transforma-se num ser que não necessita virtualmente de nada, porque tudo já é naturalmente seu, pela sua própria origem divina.

3 de ago. de 2019

“Ficais alegres, porque vossos nomes estão escritos nos céus”

por Jonas Taucci

Uma amiga solicitou-me informações sobre os anacoretas: iria elaborar um TCC (Trabalho de Conclusão de Curso, aqui no Brasil; uma dissertação a nível universitário, ao final de um determinado curso acadêmico).

Aproximadamente 18 séculos depois de seu início pelos desertos do Egito, e depois expandindo-se pela Síria, Pérsia, Capadócia, Armênia e Palestina, uma movimentação (solitária) de pessoas, intriga, assusta e causa perplexidade até nossos presentes dias.

Cristãos, residentes no Egito do século IV DC (aproximadamente no ano 330), abandonaram seus lares, posses, cargos etc. para irem residir no deserto. Moravam solitariamente em cavernas, ou casebres construídos de pedras e folhas, alimentando-se de pão, raízes, e frutas secas doadas por algum transeunte de caravanas. Seus contatos com outras pessoas eram mínimos.

Dedicavam-se a orações, penitencias, jejuns e a escritos litúrgicos: suas roupas logo esfarrapavam-se, e nus, permaneciam nestas condições por décadas.
Esperavam – com este comportamento – aproximarem-se da divindade, de Cristo, de Deus.

O anacoreta cristão fugia, para o deserto, da comunidade temporal a que pertencia na sociedade, para juntar-se – segundo eles – à comunidade espiritual, invisível, que reunia todos os cristãos de séculos anteriores.

E assim, este comportamento que rompia com a sociedade, culminou – com o passar do tempo – em uma nova sociedade nos desertos das localidades acima citadas. Como anacoretas, sabemos da existência de: Antão, Pacômio, Doroteu, Macário, Zózimo, Eusébio, João Clímaco, Alípio, Evrágio Pôntiaco, Gerásimo, Múcio e outros milhares...

Abaixo, certas características suas:

*** Residiam – propositalmente – em lugares distantes cerca de 10 km. de um rio ou fonte, para forçarem uma penitência de ir e vir buscar água. Muitas vezes, carregavam na ida e volta, pedras para dificultar esta atividade.

*** Apesar da vista no deserto, de uma noite com céu maravilhosamente estrelado, ficavam décadas sem contemplar esta cena, por “acharem-se indignos de ver as maravilhas que Deus construiu”. Jamais levantavam seus olhares.

*** Alguns anacoretas, subiam em árvores, e entre os galhos, viviam por décadas, sendo alimentados por visitantes, esporadicamente.

*** Outros, empilhavam pedras, de modo a alcançar uma altura de cerca de 15 metros de altura. Depois subiam ao topo, ficando lá – em oração – por anos a fio.

*** Em troncos de árvores de porte, esculpiam um buraco, fixando residência aí, pelo resto de suas vidas.

Há muitas outras características existenciais dos anacoretas; demandaria um espaço enorme para sua citação, mas penso ser o resumo acima, uma ideia bem aproximada do que foi este movimento.

 (Ele ainda existe, em escala menor, em desertos do oriente).

Há quem conteste – através dos séculos – esta postura isolacionista dos anacoretas.

Os Ensinamentos da Sabedoria Ocidental está entre os que não indicam um estilo de vida desta maneira, onde não há contato algum (ou mínimo) com outras pessoas.

Evoluímos – determinantemente – nos relacionamentos com nossos semelhantes, e jamais através de livros, cursos, textos, palestras, e principalmente isolando-se do mundo e das pessoas. Estas, são a mola propulsora de nossos avanços espirituais.


Em meu parecer – respeitosamente – houve nuances egoístas no retirar-se para os desertos, por parte dos anacoretas: deixaram para trás, semelhantes enfermos e desassistidos; focaram-se apenas em sua salvação (a contramão do desenvolvimento espiritual).

Em uma lição mensal de Filosofia (aos estudantes) de Oceanside, Sede Mundial, início dos anos 60, o tema referia-se a exatamente isto: NÃO HÁ COMO CONSEGUIR UMA ABRANGÊNCIA DE LUZ INTERNA, ABANDONANDO NOSSOS SEMELHANTES, DEIXANDO DE PRATICAR O SERVIÇO.  A lição do amor, pregada por Cristo, o maior iniciado do Período Solar, jamais deve ser esquecida, nem eclipsada por conhecimento (muitas vezes canto das sereias).

Esta lição de Oceanside, terminava enfatizando nossas posturas de amor e caridade para com os outros, resultando num “LIVRO DA VIDA” (Apocalipse de João, 21:27) e chancelada por Cristo:


 Ainda que residindo urbanamente, vivemos um estilo de vida anacoreta?

12 de ago. de 2018

Trilhar o Caminho

Imagem: O Caminho para Emmaus por Gemäld Von Robert Zünd 
por Gilberto Silos
Lucas 9 (57-62)
E aconteceu que, indo eles pelo caminho, lhe disse um: Senhor, seguir-te-ei para onde quer que fores.
E disse-lhe Jesus: As raposas têm covis, e as aves do céu, ninhos, mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça.
E disse a outro: Segue-me. Mas ele respondeu: Senhor, deixa que primeiro eu vá a enterrar meu pai.
Mas Jesus lhe observou: Deixa aos mortos o enterrar os seus mortos; porém tu vai e anuncia o reino de Deus.
Disse também outro: Senhor, eu te seguirei, mas deixa-me despedir primeiro dos que estão em minha casa.
E Jesus lhe disse: Ninguém, que lança mão do arado e olha para trás, é apto para o reino de Deus.
Lucas 9:57-62

A escolha, a decisão de trilhar o caminho da espiritualidade é um impulso interior, uma iniciativa do espírito, não produto de um momento de emoção ou fruto de um pensamento. É um ato de coragem serena, não mera bravata.

Sepultar os mortos e despedir-se dos seus é apegar-se a algo que oferece uma segurança ilusória, aparente. Assemelha-se ao sentimento que assaltou os hebreus no deserto quando ao sentirem falta e saudade das panelas de carne do Egito, erigiram o bezerro de ouro, ou à mulher de Lot que transformou-se em estátua de sal ao olhar para trás e contemplar a destruição de Sodoma e Gamorra. Simboliza uma forma de cristalização.

Para quem quer trilhar o caminho não existe uma só família estabelecida nos laços de sangue. A família é toda a humanidade, como dizia Tomas Payne. Somente esse estado de consciência pode libertar alguém da influencia do espírito de raça que engendra os sentimentos arraigados de clã, família e raça. Isso se torna possível através de uma ruptura com os paradigmas da humanidade comum, pois não se pode servir a dois senhores ao mesmo tempo.

A verdadeira espiritualidade é um caminho, uma trilha. Um caminho leva a um destino.

Consideremos como exemplo concreto, a rodovia que liga São Paulo a Presidente Prudente. Podemos estudá-la detalhadamente, consultando um mapa, calculando os quilômetros que separam as duas cidades, verificando em livros quais as estradas interessantes que a estrada atravessa.  Tudo isso pode ser muito atraente e interessante, mas não será assim que chegaremos  ao nosso destino. Se quisermos ir a Presidente Prudente teremos de iniciar a viagem.

Trilhar o caminho significa por em prática todos os conhecimentos adquiridos, modificar a própria vida, o comportamento, transformar-se constantemente em algo novo e diferente.

Esse processo de transformação é um compromisso sério, ou seja, é mais do que isso, é um comprometimento, uma responsabilidade.

Um cientista pode fazer uma grande descoberta que o projete mundialmente e ao mesmo tempo continuar a ser uma pessoa agressiva, amiga do álcool, das drogas ou de qualquer outro prazer mundano. A sua vida e o seu comportamento não afetarão a sua descoberta. O mesmo não se pode dizer da descoberta espiritual. Por ínfima que seja, ela produz um efeito direto sobre a pessoa. Força a mudança de hábitos e atitudes. Não acontece o mesmo com o ser humano comum, pois o mundo aceita novas verdades desde que não haja comprometimentos.

O objetivo do caminho da espiritualidade é a sabedoria, a totalidade do homema vitória sobre a dualidade (polaridade), a união consciente com Deus, o casamento místico, enfim a consciência cósmica.
O Caminho da Iniciação, do livro: Iniciação Antiga e Moderna de Max Heindel, Cap.: A Iniciação Mística Cristã (veja aqui)
Esse caminho deve ser trilhado com desapego. Os ensinamentos espirituais devem libertar o homem de suas velhas fixações. Porém, sempre há o risco de tornarem-no objeto de novas fixações; Acredita-se ter dado um passo à frente, quando na verdade houve apenas ua troca do objeto de apego. Mudou-se apenas de fixação. Em síntese, a trilha da espiritualidade é o caminho da constante transformação.

20 de mai. de 2018

O Apóstolo em Cada Ser Humano



REF. Lucas 9:62
"E Jesus lhe disse: Ninguém, que lança mão do arado e olha para trás, é apto para o reino de Deus."

Para muita gente ainda contínua um mistério o significado real de a mulher de Lot ter se convertido em uma estátua de sal, após contemplar a destruição de Sodoma e Gomorra. É bom recordar que isso aconteceu porque ela olhou para trás, saudosa. ...

Segundo o Velho Testamento, as duas cidades celebrizaram-se como verdadeiros núcleos de licenciosidade. Eram, portanto, um centro de degeneração.

Encontramos aí um interessante simbolismo ou alegoria. Não se trata apenas de um relato bíblico. É algo muito mais profundo. Mais uma vez deparamos com a história do próprio homem, sempre às voltas com os desafios inerentes ao caminho do progresso espiritual.

Sodoma e Gomorra simbolizam o elemento que, por se corromper, perdeu a sua utilidade, e o seu lugar, dentro do processo evolutivo. A mulher de Lot representa aquele tipo humano incapaz de libertar-se de hábitos nocivos e ideias  ultrapassadas. Insensível a estágios ou vivências mais elevados, apega-se a estruturas bolorentas e enferrujadas, embora só possa sofrer prejuízos com essa resistência. Olhando para trás, demonstrou sua ligação com aqueles restos que se consumiam, ao invés de encetar uma nova busca.

É uma perfeita alegoria à cristalização.

O homem comum, é bom ressaltar, traz consigo uma tendência à acomodação. Se, do ponto de vista material, a vida que leva é relativamente "boa", opor-se-á tenazmente, a qualquer tipo de mudança, mesmo salutar à sua formação espiritual.
A acomodação, diante de qualquer análise, surge como algo pernicioso. No Universo tudo se encontra em constante movimento, sempre em direção a degraus superiores. A inércia, por ser contrária às leis naturais, gera reações às vezes violentas. O homem, por ser elemento integrante do contexto cósmico, não deixa de estar sujeito a essa lei.

As transformações constituem uma necessidade evolutiva. São uma manifestação da Lei de Deus, sempre objetivando abir mais amplos horizontes para a humanidade. O homem sofre porque resiste às transformações, insistindo em permanecer impenetrável aos raios da Luz Divina. Às vezes contempla a estrutura em que viveu durante multo tempo ruir fragorosamente. Mesmo assim, cede á tentação de olhar para trás observando demorada e nostalgicamente os escombros. É um indicador de sua cristalização. O curso da própria vida acabará por reintegrá-lo ao progresso. Isso, todavia, ocorre, quase sempre, à custa de muito sofrimento.
É importante "tomar do arado e não olhar para trás", como exortou o Cristo .

Conta-se que o conquistador romano Júlio César, quando aportou nas ilhas britânicas, ordenou a seus soldados que queimassem os navios. Assim, ninguém pensaria em voltar, recuando diante de um inimigo até então desconhecido.  Lutariam ou sucumbiriam.

A vida costuma encaminhar-nos  a situações complexas, em que o recuo se afigura impossível. Segurança interior, autoconfiança, fé, coragem, capacidade de adaptação, são testadas nessas ocasiões.

Temos que estar alertas e preparados para as mudanças. Elas acontecem quando menos esperamos.

Todos nós somos dotados de talentos, em maior ou menor grau de desenvolvimento. O uso desses dons determina nosso crescimento. Há ocasiões em que Deus requisita nossos préstimos em Sua Seara. Essa convocação divina pode implicar em mudanças, talvez até radicais, em nossas vidas. Atenderemos ao chamamento de nosso Divino Pai, ou continuaremos com a nossa já viciada rotina?
Não importa se somos inconscientes disso ou se nos encontramos acomodados, indiferentes ao sofrimento do mundo. Cedo ou tarde seremos chamados a servir. No Início talvez até resistamos. Mas chegará o momento da decisão, em que nossas existências tomarão outro rumo. Saulo era um ferrenho perseguidor dos cristãos. Na estrada de Damasco transformou-se: “Saulo, Saulo, por que me persegues? Duro é para ti recalcitrar contra os aguilhões." Saulo transformou-se em Paulo, assumindo uma nova realidade. Abandonou o invejável "status" de doutor da Lei. Teve a coragem de deixar os de seu credo. Renunciou suas amizades e suas posses, para abraçar as idéias do nazareno, um misto de blasfemo e impostor no entender dos fariseus.

É preciso, entretanto, una férrea disposição para atravessar as agruras dessa fase de transição. Incompreendido, injustiçado, vilipendiado até, o aspirante há de perseverar. Terá muita luta pela frente, sem dúvida. Mas a crueza da porfia não deve abatê-lo. É duramente provado. Cai. Ergue-se. Fracassa novamente. Anima-se de esperança. Aflige·se mortalmente com a decepção. Ascende mais uma vez. Na experiência renova-se. O mundo dele necessita. O Cristo necessita dele. Deus nele habita. Não há razão para temores. Vive na fonte do eterno Bem.

O caminho do apostolado é assim mesmo. Exige mudanças, Crucifica o eu inferior. É como o campanário de uma igreja: largo na base, estreitando-se à medida que sobe. No cume só resta a cruz. Não se pode olhar para baixo, para trás. Só resta subir sempre...
De um editorial da revista Serviço Rosacruz, agosto de 1978

21 de jan. de 2018

A Circuncisão - Uma Interpretação

"A Apresentação no Templo", Philippe de Champaigne, 1648

REF. Lucas 2:21-24

"E, quando os oito dias foram cumpridos, para circuncidar o menino, foi-lhe dado o nome de Jesus, que pelo anjo lhe fora posto antes de ser concebido.
E, cumprindo-se os dias da purificação dela, segundo a lei de Moisés, o levaram a Jerusalém, para o apresentarem ao Senhor
(Segundo o que está escrito na lei do Senhor: Todo o macho primogênito será consagrado ao Senhor);
E para darem a oferta segundo o disposto na lei do Senhor: Um par de rolas ou dois 
pombinhos.” 

Com relação a circuncisão no oitavo dia, citado por Lucas, encontramos a referência no Gen. 17:12, 21:4 e Lev. 12:3.

A frase “como fora chamado pelo Anjo, antes de ser concebido no ventre de sua mãe” é uma prova do renascimento. Ou seja: “antes” já existia, já tinha nome. Essa existência anterior pertence a todos nós, pois Jesus é apenas o nosso irmão mais velho, “o primogênito entre muitos irmãos” (Rom. 8:29)

Segundo Lev. 12:2-5 as mães deviam apresentar o primeiro filho do sexo masculino ao templo, 40 dias após o parto. Se o filho era primogênito (bekor) a mãe deveria levá-lo pessoalmente, apresentá-lo e consagrá-lo a Deus. (Ex. 13:2-12). Entretanto como os da tribo de Levi é que tinham função sacerdotal oficial (Num 3:12-13), os primogênitos de outras tribos eram “resgatados” com a oferta de cinco ciclos de prata (Num 18 15-16). Sendo Jesus da tribo de Judá, fez Maria a oferta legal por ele, isentando-o do sacrifício oficial.

Em vista disso Lucas não distingue as duas cerimônias: a purificação de Maria e a consagração de Jesus, mas engloba-as numa só palavra: o resgate deles.

Segundo a citação feita por Lucas do Ex.:13:2 e 12, onde se lê textualmente: “todo macho que abrir a vulva será chamado santo para o Senhor”, vê-se claramente que o nascimento de Jesus foi normal, não havendo virgindade física durante ou depois do parto como desejam alguns. Se os fatos tivessem sido anormais, Maria estaria dispensada da Lei.

Para sua purificação Maria ofereceu um sacrifício (Lev 12:8) de um casal de rolinhas ou de dois pombos jovens (borrachos) que se permitia aos pobres, para substituir o cordeiro, o qual não poderiam comprar.

Todos aqueles que realizaram as bodas místicas internas da natureza humana com a divina, põem-se a serviço de Deus e, portanto, devem circuncidar-se, ou cortar ao redor de si todos os apegos, para que tenham como se não tivessem; possuam sem ser possuídos; usem como por empréstimo; utilizem tudo como administradores dos talentos divinos, recordando-se de que “nada trouxemos para esse mundo, e sem dúvida, nada dele poderemos levar”. (ITim, 6:7).

Renúncia de coração para servir-se das coisas e com elas servir aos outros, com desapego a recompensas, a gratidão e a retribuições quaisquer. Esta é a “circuncisão interna” que todos devemos cultivar. Ela inclui o desapego até mesmo de ideias e concepções quanto aos laços sanguíneos, aos afetos e semelhantes, para que apenas o puro amor que o Divino verte de Si possa permanecer como manifestação natural. Este desapego (circuncisão) é inevitável quando, pelo encontro com o Eu superior, adentramos o Templo interno, contrastando a realidade divina interna com a transitoriedade material externa.

Mas esse desapego não é levado a termo enquanto não se faz a purificação da personalidade. E para isso devemos esperar 40 dias. (“quarenta dias” é simbólico - pode significar anos e até vidas). Para o candidato que já chegou ao encontro com o divino interno, a tarefa é mais fácil. Realmente o nascimento do primogênito (Bekor), consagrado a Deus requer o mergulho nas vidas anteriores conscientizando todas as experiências adquiridas desde o início da peregrinação evolutiva até a conquista da mente (passando pelos estados de consciência mineral, vegetal e animal). Corresponde à quinta iniciação menor e nos põe acima dos opostos de simpatia e antipatia; em suma, em ligação igual com todos os seres.

Uma vê purificados os veículos denso, etérico, de desejos e mental, apresentamo-nos ao Templo, ao Cristo Interno, como oferenda, submissão e consagração para o SERVIÇO. Esta cerimônia é simbolizada pela oferta de um cordeiro (ou de pombas como vimos no evangelho de Lucas). Isto demonstra que a graça do “encontro” pressupõe o sacrifício da parte animal, ou melhor da entrega da parte animal já purificada.

Daí em diante só o espírito prevalece,. Como disse São Paulo: “Não mais eu quem vive, mas o Cristo em mim”. O corpo se converte em alegre vivenda porque não representa mais uma prisão; e a vida passa a ser uma SEARA.

                                                  Publicado na revista Serviço Rosacruz, de  janeiro de  1976