Cumprindo a ordem de Gabriel, Maria parte em ajuda a
Izabel.
À saudação de Maria, a criança, no ventre de Izabel, “dá
saltos de alegria”. Tertuliano, Orígenes, Irineu, Ambrósio e o teólogo Suarez,
afirmam que João Batista, já no ventre, tinha o uso da razão. Isto é mais
lógico e natural que a “intervenção divina” mencionada por Agostinho. De fato,
Max Heindel esclarece: quando um espírito alcança um elevado grau evolutivo já
começa a formar conscientemente os seus veículos, no ventre da mãe, em vez de
deixar que esse trabalho seja feito inconscientemente pela genitora. Ora, com a
consciência que possuía (reencarnação de Elias), João Batista (ainda no ventre
de Izabel) exprimiu sua alegria ao encontrar com os companheiros Iniciados, que
estavam encarnados como Maria e Jesus (no ventre de Maria).
Izabel, como Iniciada essênia, também não tinha
dificuldades em saber que Maria se achava grávida (vers. 42), embora de poucos
dias e, por isso, externamente imperceptível.
A resposta de Maria é um cântico maravilhoso, conhecido em
toda a cristandade como “Magnificat”, reproduzindo pensamentos do Velho
Testamento, sobretudo dos Salmos. Seu início ressalta a diferença entre o
espírito e a alma, que o estudante rosacruciano deve distinguir bem. Essa mesma
distinção entre espírito e alma se acha em Jó 12:10 Velho Testamento); e em
Tessalonicenses 5:23, Hebreus 4:12 (Novo Testamento).
A humildade de Maria que se julgava pequena escrava, não é
contradição ao seu regozijo de ser chamada bem-aventurada por todas as
gerações. Escravo de Deus não é o que seja forçado a isso, mas o que
voluntariamente se submete ás leis divinas, sabendo que nisso está a verdadeira
liberdade. Como disse Paulo: “ Lá onde habita o espírito (vivência elevada), é
que existe a liberdade” (II Cor. 3:17). Ao contrário, o ser mundano que se
julga livre não pode fugir das leis mantenedoras da harmonia universal que lhe trazem
o justo corolário de sua ignorância: o sofrimento.
O reconhecimento de que Deus é poderoso, mas ao mesmo tempo
exerce misericórdia, de geração em geração (através dos renascimentos), é uma
expressão de louvor. Tem, sentido idêntico ao Salmo 103:17 – não de temor, mas
de fidelidade e respeito.
Os versos 51 a 53 estão conforme I Reis 2:5-7; Eclesiastes
10:14; Salmos 34:10-11; 107:9, 148:6; e Jó 5:11, 12:19 e 22:9. Estas citações
de Lucas e do Velho Testamento constituem mais uma defesa ao Renascimento, pois
dificilmente sucede que os poderosos sejam derrubados e humildes exaltados, do
ponto de vista material. O abuso ou mérito de uma vida é que trazem a
consequência inevitável em futura encarnação, pelo mau uso ou bom uso dos
talentos divinos.
INTERPRETAÇÃO ESOTÉRICA
O aviso para o próximo encontro com o Cristo Interno leva o
aspirante à montanha (elevação interna), em meditação e vigília, no convívio
com almas afins e a serviço delas (Maria foi à região montanhosa da Judéia).
O “Magnificat” é um canto de alegria da alma que sente o
influxo da graça, convicta da pequenez e sua personalidade em contraste com a
grandeza ilimitada no amor divino que se designa visitá-la. Canta o próximo
encontro e união com o Cristo Interno, acrescentando louvores pelos benefícios
recebidos em vidas anteriores, pelas correções benditas, lembrando que devemos
ser desapegados (pobres) e evitar a cobiça (riquezas matérias) para exercermos
a justa administração dos talentos divinos e alcançarmos a Graça.
Maria ficou três meses com Izabel (até nascer João). Isto
representa a preparação para levedar as três medidas de farinha (purificação
dos corpos mental, emocional e físico) em convívio e mútuo incentivo com almas
elevadas, servindo e sendo servido. Mas deve voltar à sua casa, isto é, deve
continuamente buscar o seu íntimo, em introspecção, com exercício individual
até que ocorra o nascimento.