Pergunta: Os
Rosacruzes aceitam a Bíblia como sendo a “Palavra de Deus” da primeira à última
página?
Resposta: Não, e menos
ainda no que diz respeito à interpretação extremamente limitada de algumas pessoas
que supõem que o livro, tal como o conhecemos hoje, é o único genuíno já
oferecido à humanidade. Quando muito, poderia ser apenas um dos livros de
Deus, pois há muitas outras escrituras sagradas que devem ser reconhecidas e
não podem ser consideradas improcedentes por uns poucos pretensiosos, como
aqueles que delegaram os chamados livros apócrifos à pilha de refugos
literários.
Devemos lembrar que o Antigo Testamento foi escrito em
hebraico, em épocas diferentes e por numerosos escritores, e esses textos não
foram colecionados antes de Ezra. Desses escritos hebraicos, não temos hoje
nenhum fragmento existente. Por volta de 280 A.C., a língua hebraica deixou de
ser usada em relação às escrituras. A Versão do Septuaginta ou Versão Grega, é
que entrou em uso e era a única Bíblia existente na época do nascimento de
Cristo. Mais tarde, alguns dos escritos hebraicos foram encontrados e examinados
pelos Massoréticos, uma seita que existiu cerca de 700 anos D.C. Este é o
melhor e o mais acurado texto.
A tradução inglesa, mais usada hoje em dia, é a Versão do
Rei James. Porém, Sua Majestade preocupava-se mais com a paz do que com a
verdade, e a lei que autorizou a tradução da Bíblia proibia aos tradutores
quaisquer passagens que pudessem interferir nas crenças existentes. Isto foi
feito para evitar qualquer dissidência em seu reino. Dos quarenta e sete
tradutores, apenas três eram versados na língua hebraica, e dois morreram antes
da tradução dos Salmos. Vários livros foram rejeitados por serem considerados
apócrifos e tiveram as palavras alteradas, pois o seu significado original não
se ajustava à superstição da época. Martinho Lutero, na Alemanha, fez a tradução
baseado no texto latino, que já havia sido traduzido do grego. Portanto, o
risco de erros devido às excessivas e discutíveis traduções tornou-se muito
grande. Além disso, na antiga escrita hebraica, os pontos representando as
vogais foram suprimidos e não separavam-se as palavras, de forma que, ao
inserir vogais em ordem diferente, obtemos palavras e frases de significados
inteiramente diversos. Isso se aplica a qualquer frase. Em vista desses fatos, podemos
concluir que as chances de obter uma versão precisa da escrita original são,
realmente, bem pequenas.
Ainda mais, os escritores originais não tiveram a intenção
de fazer da Bíblia um ―Livro de Deus‖ para todos, como pode ser constatado pela
seguinte citação do Zohar: ―Infeliz do homem que vê na Torá (a lei — a Bíblia)
apenas simples narrações e palavras comuns, porque se na verdade ela só
contivesse isso, seríamos capazes hoje de compor uma Torá ainda mais digna de
admiração. Mas não é assim; cada palavra na Torá contém um significado elevado
e um mistério sublime... As narrações da Torá são as vestimentas da Tora...
Infeliz daquele que confunde esta vestimenta da Torá com a Torá em si... Os
ingênuos percebem apenas as vestimentas e narrações da Torá; não tomam
conhecimento de outra coisa, não enxergam o que está oculto sob a vestimenta;
os mais instruídos não se detém na vestimenta mas naquilo que ela encobre"...
Em outras palavras, não devemos prestar atenção à forma,
mas apenas ao conteúdo. Num terreno onde batatas foram plantadas, não há apenas
esses tubérculos, mas também o solo no qual estão ocultos.
Também na Bíblia,
as pérolas da verdade oculta estão envoltas no que, frequentemente, parecem ser
vestes horríveis. O ocultista que se preparou para possuir essas
pérolas recebeu a chave e as vê plenamente. Para outros, elas permanecem
obscuras até que também tenham trabalhado por essa chave.
Por conseguinte, enquanto o curso errante dos filhos de
Israel e as negociações de um certo Deus com eles são parcialmente verdadeiras,
ali há também um significado espiritual que é bem mais importante do que a história
material. Embora o Evangelho contenha as linhas gerais da vida de um indivíduo
chamado Jesus, essas são fórmulas de iniciação mostrando as experiências que cada
um deve eventualmente atravessar no caminho
rumo à verdade e à vida.
Esse caminho foi prognosticado pelas várias pessoas que
escreveram a Bíblia, isto é, pelos profetas e videntes, mas apenas na
possibilidade do seu tempo e período. Uma nova era exigirá uma nova Bíblia, uma
nova palavra.
Do livro Filosofia Rosacruz em Perguntas e respostas Vol.I perg. 78
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