por João Pereira Jr.
Não é sem razão que muitos estudiosos dos Evangelhos
encontram dificuldades em compreendê-los, pois é necessário meditar longamente
nas entrelinhas. Sem nos alongarmos demasiado, vamos examinar, segundo nossa
capacidade, algumas citações de Mateus.
"Se, pois, trouxeres ao altar a tua oferta e ali te
lembrares de que teu irmão tem alguma cousa contra ti, deixa perante o altar a
tua oferta, vai primeiro reconciliar-se com ele; e então, voltando, faze tua
oferta. Entra em acordo com o teu adversário enquanto estás com ele no caminho,
para que o adversário não te entregue ao juiz, o juiz ao oficial de justiça, e
sejas recolhido à prisão. Em verdade te digo que não sairás dali enquanto não
pagares o último centavo". (Mat. 5:21 a 26).
O que é altar
senão a nossa consciência, e oferta
senão as preces e vibrações que
fazemos a todo o mundo? Reconciliarmo-nos com o adversário é um convite
do Mestre ao exame noturno de consciência e à oração. E caminho, na citação, é um indicativo de nossa presente existência.
Interessante é notar,
também, que os Senhores do Destino estão figuradamente representados pelo juiz e o oficial de justiça, que nos sentenciam à prisão de novos corpos,
pelo renascimento, até que tenhamos saldado a última parte da dívida, perante a
lei de causa e efeito.
Mais adiante vemos enunciada uma disciplina preventiva de
um renascimento triste: "Se o teu olho direito te faz tropeçar, arranca-o
e lança-o de ti, pois te convém que se perca um dos teus membros, e não seja
todo o teu corpo lançado no inferno", e assim também com as mãos. Todos
sabemos das causas remotas de um renascimento num corpo aleijado ou idiota, sem
possibilidade de recuperação naquela vida, por efeito da lei "o que semeares,
isto mesmo colherás". Não é como estar num inferno? No entanto, é uma
forma de prevenir que se caia em falta maior e se perca a própria alma.
Há passagens evangélicas que deixam perplexas as pessoas
afeitas à sua meditação. Um exemplo é a do paralítico trazido num leito
perante Cristo-Jesus. E este lhe disse: "Tem bom ânimo, filho- perdoados
estão os teus pecados". Os escribas ficaram escandalizados com estas
palavras e ainda hoje pode-se julgar que o Mestra quisera exorbitar a lei de
Causa e Efeito. Outro caso é o do cego a quem o Nazareno curou, misturando
saliva com a terra e fazendo lama. Outro ainda, o do paralítico que aguardam há
muito a possibilidade de alcançar a piscina, quando o Anjo lhe vinha agitar as
águas. O Mestre curou-o simplesmente, fora, dizendo que seus pecados estavam
perdoados. Pois bem, não há de que estranhar. O Cristo vira em tais casos a
extinção das dividas de destino pendente.
Quando urna pessoa cai enferma é submetida
pelo médico a rígida disciplina e às vezes impõe a necessidade de
uma intervenção cirúrgica, com amputação de um membro, para que se
salve o restante do corpo. Mas isto não livra a vítima de
futuras complicações, caso se dê a novos desuses. Semelhantemente
o Mestre dava por findas as causas de destino e, como Médico divino proclamava a
cura. Mas não deixava de advertir: "Vai e não peques
mais, para que te não suceda coisa pior"', mostrando a cadeia ininterrupta
de novas causas.
Aos ouvidos duros de entendimento. Cristo cita ainda, o caso de Elias, renascido como João
Batista: "E, se o quereis reconhecer, ele mesmo é o Elias
que havia de vir. Quem tem ouvidos de ouvir, ouça". (Mat. 11: 14,
15). Não é preciso dizer que ainda hoje há ouvidos
que não querem ouvir, em virtude dos preconceitos, citações tão claras
a respeito do renascimento.
Cristo compara também
esta geração a crianças que brincam nas praças,
gritando uns com os outros, sem cultivar os aspectos mais sérios da vida
presente e futura, no além.
Vejamos agora Mateus 16:13 a 16: “Indo Jesus para as bandas de Cesaréia de Felipe, perguntou a
seus discípulos: — Quem, dizem os homens, ser o
Filho do Homem? — E eles responderam: uns dizem: João Batista; outros: Elias;
e outros: Jeremias, ou algum dos Profetas. Se para aquela gente
Jesus seria, ou João (já decapitado, então), ou Elias (que o
Antigo Testamento cita haver sido arrebatado ao céu
num carro de fogo, etc., não revela isto a crença natural
daquela gente no renascimento?
Muito mais poderíamos dizer, das outras
partes do Novo Testamento e também do Velho Testamento, para corroborar
a declaração de Max Heindel,
de que o renascimento era ensinado antes de Cristo e mesmo
por Êste, em secreto, a Seus discípulos.
Outros pontos de ocultismo podem ser igualmente esquadrinhados pela
a mente inquiridora e lógica do estudante rosacruz, mercê
das chaves que se lhe dão.
Publicado na revista
Serviço Rosacruz, fevereiro, 1964
Nota: João Pereira Jr.
foi redator da revista Serviço Rosacruz durante vários anos.
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