7 de out. de 2025

Bem-aventurados sois, quando vos injuriarem, vos perseguirem....

O Sermão do Monte Harry Anderson

 "A Bíblia foi dada ao mundo ocidental pelos Anjos do Destino que, estando acima de todos os erros, dão a cada um e a todos, exatamente o que necessitam para o seu desenvolvimento. Por conseguinte, se procurarmos a Luz, encontrá-la-emos na Bíblia."  (Max Heindel.)

...e mentindo, disserem todo o mal contra vós, por minha causa. Alegrai-vos, exultai porque é grande o vosso galardão nos céus, pois assim perseguiram os projetas que existiram antes de vós.

A sentença chave para esta bem-aventurança, è: "A paz interior suscita a paz exterior"

Esta última bem-aventurança constitui um complemento da oitava. Ela procura chamar nossa meditação para estes pontos essenciais:

a) Que todo sofrimente advindo da reação de nossa natureza inferior é benéfico, porque acabará nos despertando e conduzindo no "reto agir";

b) Que as tendências erradas que ainda vibram em nós, suscitam reações idènticas, das naturezas Inferiores de nossos semelhantes, provando-nos por meio dos atritos de relacionamento;

c)Que estes sofrimentos internos e externos dependem de apenas uma solução: a reforma interna para o "reto agir";

e finalmente,

d) Que não há mérito nenhum nos atritos externos e nos sofrimentos decorrentes. Eles são desnecessários Podem e devem ser eliminados de nossa experiência individual, através do conhecimento e vivência da Verdade.

Tudo depende do estado vibratório de nosso intimo: de sua paz ou discordia decorrem a harmonia ou desavenças que suscitamos em nosso meio ambiente. Nisso nos assemelhamos à máquina fotográfica: a chapa não pode ser batida e reproduzida, se no filme não houve o elemento químico, que reage à luz. Também nós, através do agente da discordia, de nossos próprios defeitos, registramos e criticamos nos outros o que temos em nόs. Como diz o ditado "Quem usa, cuida". Nossas críticas em relação aos defeitos alheios, as criticas que sofremos; as adversidades todas, tém a finalidade única de nos advertir da existência de erros semelhantes, que nos convidam, desse modo, para a regeneração. É comum ouvirmos conhecidos reclamarem contra a injustiça que sofrem no lar ou no trabalho: julgam-se prejudicados em direitos e consideraсão e compreensão. Quase sempre são presunçosos e vazios. Querem receber o que não đão. A justica de Deus jamais nega aquilo a que temos direito. Assim, toda idéia de perseguição e de frustração vem do intimo.

Pode ser, também, que a coisa venha do passado. É possível que agora estejamos sinceramente, dedicados ao "reto agir" e apesar disso, soframos adversidades. No caso, a compreesãо da verdade espiritual nos deve isentar de qualquer mágoa. Se ainda sofremos é porque o "agente" do orgulho continua dentro de nós. S. Bernardo disse muito bem: "Nada pode ferir-me nem atingir-me, a não ser que eu mesmo o permita" De fato, se algo encontra. guarida em nosso intimo, é porque atraimos. A Filosofia Rosacruz nos ensina "Jamais devemos nos aborrecer com as criticas. Se elas são verdadeiras, devemos ser gratos e aprovei tá-las; se não são, não cabem a nós e portanto, porque nos aborrecer? Quanto ao modo como as pessoas nos criticam, o problema é delas. Cada qual responde por seus atos."

De toda maneira, é mister humildade e positividade. Devemos estar atentos para a realidade e necessidade de reforma constante. Que tudo sirva de ensejo para aprimoramento. Que nada justifique o registro de magoa ou rancor contra quem quer que seja. Basta de registros negativos. Tomemos a resolução de incinerar, pelo arrependimento, os "arquivos negativos de nosso interior". E tiremos microfilmes para guarılar, eternamente ativo, o que existiu de bom. Esta atualização de nossos "arquivos" é sábia e indispensável.

Existe uma tradição sentimental relacionada aos mártires da cristandade e de outros movimentos edificantes. Admiramos as qualidades espirituais, a convicção e arrojo dessas pessoas. No entanto, sem o desejo de depreciar o que tinham de bom, ousamos afirmar que elas não haviam entendido bem as verdades espirituals. Os martirios poderiam ter sido evitados se elas tivessem amado realmente seus inimigos e houvessem buscado apelar para o Cristo no interior deles. Talvez tivessem arrostado um tanto precipitadamente as coisas na convicção dominante de que aquilo seria "para a gloria de Deus" ou para cumprimento de destino maduro. Não nos referimos ao Cristo. Ele não foi humano e nem um mártir. Tudo o que Ele fez, confirmando profecias, estava divinamente planejado, como bem ensina o "Conceito Rosacruz do Cosmos". Ele precisava de limpar a Terra de todo o rеgistro das transgressões coletivas, desde a queda, para livrar-nos do perigo de Caos e assegurar-nos maior facilidade evolutiva. Ele devia fazer a demonstração de "vencer o mundo" e através da ressurreição, vencer a morte. Ele disse "Tudo o que eu faço, vós o fareis e obras maiores ainda fareis, se me seguires", Servindo-nos de exemplo e de caminho. Cada qual também, à semelhança d'Ele, deve entrar para o interior de si mesmo e fazer a limpeza de seu subconsciente, para experimentar a libertação de todas as peias e eliminar os efeitos dolorosos da dor, da enfermidade, do conflito e da morte.

Nossa meta, nosso Ideal, é o Cristo.

Não o modelo do Cristo derrotado, machucado, dolorido, sofredor, pregado na cruz - a sugerir nossa escravidão atual aos erros, senão um Cristo triunfante! Um Cristo ressurreto! Um Cristo libertado!

Que esta meta vos inspire a todos, na jornada!

publicado na Revista Serviço Rosacruz de dezembro de 1973

Bem-aventurados os que têm sido perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus

O Sermão do Monte, desenho de Jacques Callot. Fonte:https://www.nga.gov/

"A Bíblia foi dada ao mundo ocidental pelos Anjos do Destino que, estando acima de todos os erros, dão a cada um e a todos, exatamente o que necessitam para o seu desenvolvimento. Por conseguinte, se procurarmos a Luz, encontrá-la-emos na Bíblia."  (Max Heindel.)

A sentença-chave para esta Bem-aventurança é: "Dominio de si mesmo".

O sentido literal deste verso vem sugerir-nos de imediato, as perseguições que sofremos por parte dos outros, quando o bem que estamos pregando se constitui num incômodo contraste com sua maneira errada de agir Poderemos pensar em Socrates, que libertava os jovens e a elite autêntica de seu tempo de todos os sofismas e, no entanto, injustamente foi condenado a beber cicuta. Poderemos pensar em Cristo e meditar que ainda hoje se Ele aparecesse sobre a Terra, seria da mesma forma injustiçado. Poderemos pensar nas injustiças que observamos em nosso ambiente de trabalho e naquela famosa frase de Rui Barbosa em que ele se mostra desiludido ante o triunfo do mal.

Mas, esta bem-aventurança, comо as demais, refere-se ainda ao intimo do Ser humano, alude à esfera estritamente individual. Cristo se preocupa com esta parte interna - origem e base das exteriores.

Mas o leitor pode levantar esta interrogação: "Se o Cristo ensina que através da retidão, alcançamos a paz, como pode considerar uma bênção sermos perseguidos por causa dessa mesma retidão?" A pergunta é natural e a resposta explica o porquê. Ele diz "Não vim trazer a paz, senão a espada" . Mas, afinal, se veio trazer a espada, que sugere luta,não veio trazer a paz que lhe é oposta! poderemos pensar!.

A questão se tornará ciara quando mostrarmos que o estabelecimento da paz vem suscitar, em nosso intimo, a reacão de nossa natureza inferior. No estágio atual de evolução, o Homem, o Espirito, conta com dois exércitos contrários: as chamadas forças do bem, formadas por tudo que temos de nobre e elevado; e as ditas forças do mal, constituidas pelos impulsos inferiores e comandadas pelo Egoismo. Os documentos mais importantes de todos os movimentos filosóficos tratam deste assunto como tema central. Zoroastro, na Persia; o "Bhagavadghita", na India; o Documento da Guerra dos FiIhos das Trevas contra os Filhos da Luz, dos Essénios (descoberto em 1947): a Lenda dos Maniqueus; o Evangelho de João; a Luta de Israel contra os Filisteus, a parábola de Sansão para citar apenas alguns, são uma mostra da importância deste assunto. No entanto, é bom repisar, tome-se sempre a questão no lado interno e individual, pois se refere à iniciaçãn. O "Novo Testamento" está cheio de citações acerca desta questão. Paulo apóstolo fala: "o bem que quisera fazer, não faço; mas o mal que não quisera fazer, esse eu faço". Ora, se faço o que não quero, quem o faz não sou eu mas o pecado que habita em mim. Quando quero fazer o bem, o mal está comigo. Segundo o homem interior (o Eu real e superior), tenho prazer na lei de Deus. Mas nos meus membros outra lei batalha contra a lei do meu entendimento e me prende debaixo da lei do pecado". (Paulo aos Romanos, 7. 19 24).

Vejam que o assunto se torna muito claro. Os hábitos viciosas que fomos adquirindo desde a chamada "queda" lutam desesperadamente pela sobrevivência, porque sabem que não têm base em a natureza de Deus e portanto, estão fadados a desaparecer, a fim de que o homem seja restituído à sua natureza divina, que é a única existente, a única que tem causa e raiz eterna. No entanto, os despojos desta luta serão preciosos, porque vão consituir um tesouro de consciência e de discernimento, que nos formarão superiores às Hierarquias que não passaram por isso. É uma compensaçãn justa a toda o sofrimento que estamos arrostando.

É oportuno lembrar que a etimologia das palavras "Demonio" e "Satanás" é o adversário, aquele que luta contra o bem. Esta compreensão tira aquele pavor que a igreja incutia no passado. Igualmente, "inferno" significa, o mais inferior, referindo se a um estado de consciència inferior. a uma condição de sofrimento, de "fossa". Tudo, em última análise. se dá no intimo de cada ser humano, E, como dissemos, a grande arma da vitória é a Verdade, o conhecimento aplicado, vivenciado profundamente, que atinja e regenere o subconsciente.

E o prêmio desta bem-aventurança é: porque deles é o reino dos céus - aquele estado supremo, o mais elevado. em que o homem, como ser espiritual, se sente realmente livre, em seu natural estado, no de todas as promessas e partilhando do banquete oferecido ao vitorioso "filho pródigo". Recordem que o Pai ofereceu o "cevado da sabedoria" ao filho que estava perdido e nada deu ao filho que havia ficado com Ele. A explicação esotérica é esta: maior mérito possui o que teve a coragem de enfrentar as vicissitudes da jornada evolutiva e dela tornou cheio de experiencias e de riquezas animicas, do que o Espirito que, permanecendo junto a Deus, nada acrescentou a si mesmo. Dai que sejam bem-aventurados os espiritos peregrinos que tomam sua parte da herança divina (as faculdades espirituais latentes) e as arriscam na senda evolutiva. Dessa jornada retornam cheio de cicatrizes, de experiências e de glórias.

 publicado na Revista Serviço Rosacruz de novembro de 1973

Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus.

O Sermão do Monte, Fra Angelico
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A Bíblia foi dada ao mundo ocidental pelos Anjos do Destino que, estando acima de todos os erros, dão a cada um e a todos, exatamente o que necessitam para o seu desenvolvimento. Por conseguinte, se procurarmos a Luz, encontrá-la-emos na Bíblia."  (Max Heindel.)

A sentença-chave para esta Bem- venturança é: A paz interior é o umbral para Deus.

A interpretação generalizada e exotérica desta bem-aventurança é a exaltação dos que se esforçam por estabelecer a paz e concórdia em seu lar, em seu trabalho, onde esteja e até. através de sua influência, a paz mundial. Neste pensamento foi instituído, inclusivamente, o aspirado Prêmio Nóbel da Paz.

Mas a Cristo tinha um objetivo muito mais profundo e individual. Ele se referia à conquista da paz interior, como o melhor passaporte para Deus. Ele sabia que, sem a paz interna, não pode haver paz regional, nem nacional,nem mundial. A pacificação do mundo depende da pacificação de cada indivíduo, não por coação nem superficialmente por uma mera compreensão intelectual dessa necessidade, senão por uma profunda vivência da serenidade, que só pode verter de uma fonte: o Cristo Interior.

A lua não se pode refletir num lago, a menos que suas águas estejam calmas e imóveis como um espelho. Do mesmo modo, é preciso que nossa alma esteja perfeitamente serena, para que nela se reflita o Cristo e nos intua e oriente em todos os assuntos e condições. O que nos agita as águas são as emoções. E os pensamentos de preocupação e ansiedade correm como os vendavais. Mas o Cristo se ergue do fundo da barca de nosso corpo e, estendendo os braços, acalma as ondas e os ventos. Assim Ele fez com seus discípulos outrora; assim Ele faz conosco agora. Mas diz: "Homens de pouca fé"! Porque, em realidade, se tivéssemos convicção de Sua Presença e Poder, nem chegaríamos a deixar que as ondas e os ventos se agitassem e, assim, nem precisaríamos de chamá-Lo.

Todavia, como essa paz estável e permanente constitui uma mais longiqua, é preciso dizer: existe uma paz relativa, que pode e deve ser conquistada aqui e agora. Com o tempo ela se vai tornando mais estável. Basta não negligenciarmos o hábito de, como um namorado apaixonado, buscar todos os dias ensejo de encontro com o nosso Cristo Interno. Não importa que de início não tenhamos um "sinal" de Presença ou de Contato. Ele nos ouve e isto basta. Isso é realmente orar: conversar com Deus. E quando chegamos a ouvir Lhe a pequenina e silenciosa voz, é mais que oração: é inspiração divina.

É preciso considerar também outros fatores, entre estes momentos de oração. Na realidade, a forma como preenchemos esses intervalos é de vital importância ao estabelecimento de nossa íntima paz. Temos notado, por exemplo, que a televisão é um dos fatores mais prejudiciais à serenidade, não tanto pela péssima qualidade do programa geral, mas, principalmente, "pela computação brutal de um cem número de impactos emocionais e imagens", que provocam uma indigestão psíquica. Talvez as pessoas embrutecidas não se apercebam disto. É pena. Quando chegam a ficar meio neuróticas, atribuem a outras coisas mas não às horas que passam ante o vídeo, recebendo passivamente um péssimo material. Para o espiritualista sincero, que deveria zelar pelas "visitas" ao seu íntimo, não compreendemos como possa permitir -se tal sobrecarga. Enfim, cada qual é livre para "descer" ou "subir".

Muito mais útil é dedicarmos o tempo disponível em afazeres edificantes e puros. O exercício físico, para quem se dedica a misteres sedentários, é muito bom: a jardinagem, um passeio calmo, meditando etc. Além disso, leituras elevadas. O tempo, para quem deseja evoluir, é algo mui precioso para ser "morto" em atividades tolas.

Quando alcançamos a paz, pela convicção das verdades espirituais e, mormente pelos momentos de introspecção e contatos (as verdadeiras orações, mudas), notamos uma coisa interessante: nossa presença começa a fazer bem aos outros e a serenálos também. Nossas conversas e nosso estado de alma contagiam os que se nos aproximam. Ainda que não falemos nada, só a presença já lhes faz bem. Isto é pregar o Evangelho; mais ainda: é curar os enfermos. No fundo, essas duas coisas que serviram de sintese aos ensinamentos de Cristo, são a mesma coisa. Resumem se nesta outra citação: "Conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará". Em tal estado, reunindo e preparando pessoas, vamos contribuindo para a paz no lar. na sociedade, no país e no mundo, de uma forma assaz poderosa, embora silenciosa. Mas, aquele que recebe a recompensa dos homens, nada tem a receber nos céus, quer dizer, ou servimos ao prestigio da personalidade ou ao crescimento da alma.

Além dessa paz conquistada gradativamente, existem os casos excepcionais: aquelas experiências intensas, aquelas conscientizações globais, a que a igreja cristã chama de "conversões". Tal foi aquela experiência de Saulo de Tarso, à entrada de Damasco. Mas tais casos pressupõem evolução anterior. Não há injustiça nas leis de Deus. Tudo é produto de mérito ou demérito. Que isto nos sirva de estimulo: nenhum esforço é vão.

Convidamos para que Você se junte a todos nós neste esforço de pacificação, começando pela estabelecimento da paz interior.

Veja as demais bem-aventuranças aqui
publicado na Revista Serviço Rosacruz de outubrode 1973

5 de out. de 2025

Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus.

O Sermão do Monte, Julius Schnorr von Carolsfeld

"A Bíblia foi dada ao mundo ocidental pelos Anjos do Destino  que, estando acima de todos os erros, dão a cada um e a todos, exatamente o que necessitam para o seu desenvolvimento. Por conseguinte, se procurarmos a Luz, encontrá-la-emos na Bíblia."  (Max Heindel.)

A sentença-chave desta bem-aventurança: Bodas Crísticas pela pureza.

A promessa aqui contida é: ver a Deus. Mas Deus não é corpóreo e, se fosse, não seria Deus. Compreendemos o que Cristo disse à mulher samaritana: "Tempo chegará e já chegou, em que não adorareis mais a Deus neste Monte, nem nos templos, porque Deus é Espírito e Verdade, e cumpre que o adoreis em Espírito e Verdade." Então, como podemos vê-Lo?

"Agora conhecemos em parte, mas então conheceremos como também somos conhecidos." .. face a face, não através de espelhos, não por reflexos. É o que se dará: uma percepção interior, uma experiência de contato crístico - a conscientização da Presença.

Mas, para isso, há uma condição e um meio: um coração limpo. Que quer dizer Cristo com isso? Coração limpo é: pureza do subconsciente, do mais profundo do ser. Não basta compreender intelectualmente a verdade e almejá-la. Entre compreender e almejar, até alcançarmos a realização espiritual, sabemos que há um abismo. Os médicos, em geral, conhecem muito bem a higiene e as enfermidades. "Conhecem." Mas acabam adoecendo e sofrendo como outros que nada sabem. Muitos letrados e sábios falam brilhantemente sobre problemas transcendentais, mas vivem como pessoas comuns. Muitos estudiosos e graduados em conhecimento bíblico e teologia andam com a Bíblia debaixo dos braços e na sua memória;todavia ainda não alcançaram as promessas nela anunciadas. Por quê? Porque falta a reforma profunda, que atinge o subconsciente.Em primeiro lugar, eles não possuem as chaves para o verdadeiro conhecimento do ser, trate-se de saúde física, moral ou mental, que no fundo é a mesma coisa. Uma coisa não está desligada da outra. As pessoas se acham desorientadas no labirinto das especializações, sem uma base profunda que lhes permita enxergar a Unidade e os leve a considerar as indispensáveis ​​correlações.

Sobretudo, as pessoas estão pouco dispostas a ficar puras. Elas se comprazem com a escravidão: na Inglaterra e nos Estados Unidos foram liberados os tóxicos e já existem no mercado cerca de uns quarenta cigarros de maconha... O conceito de liberdade está invertido: a liberdade para os prazeres do sentido representa, opostamente, a escravidão para o Ser real que nos habita e que vai perdendo, desse modo, sua margem de expressão. O decreto da falência de equilíbrio de há muito foi promulgado: nos países, ditos os mais civilizados, há os maiores indices de suicídio; neles, os hospitais de doenças nervosas se multiplicam. Até Herodes reviveu neste Tempo do Fim, na Lei norte-americana que autoriza o aborto legal por até três meses de gravidez.

Não só o Cristo mas os nobres cavaleiros de nossos ideais, estão ameaçados. Parsifal continua lutando e sofrendo pelo mundo, sem poder usar a espada do poder a seu favor. Anfortas continua curtindo as dores do remorso, sem as águas purificadas do Cisne. E o lírio entreaberto, na fachada do Templo de Salomão, espera pacientemente pelos puros de coração.

O maior perigo na hora presente é o desanimo dos homens de boa vontade. Estejamos alertas. A questão é interna, é individual, é silenciosa. Precisamos trabalhar em retiro interno, sem alarde praticando persistente e zelosamente os exercícios, vigiando e orando. "Eis que vos atiro de encontro de lobos; sede, pois, simples como as pombas mas prudentes como as serpentes", quer dizer, continuemos no mundo sem pertencer-lhe; sinceros em nossos ideais, sem pregá-los ostensivamente, senão por exemplo e utilizando a sabedoria dos iniciados.

Lembremos da história do sapateiro: ele vivia e trabalhava no meio do povo. Seu irmão, eremita, refugiava-se por longos periodos na montanha, em estéril meditação; não exercitava a tentação do convívio humano. Certa vez, como de costume, foi em visita ao irmão sapateiro. Em sua conversa buscava sempre convencê-lo a abandonar o mundo e juntar-se-lhe em retiro. Ele, o eremita, sempre trazia no peito, uma pedrinha de gelo intacta, como símbolo da pureza das montanhas nevadas; era um filho da água. Seu irmão, o sapateiro, mantinha no peito uma brasa acesa, emblema dos "filhos do fogo" e da ação. Conversavam eles quando entrou uma mulher muito bonita e pediu os sapatos que mandara consertar. Tomou-os e, ao calçá-los ergueu as pernas, deixando-as à mostra. Isto embaraçou sobremaneira o eremita: ruborizou-se e a pedrinha de gelo começou a derreter... Mas o sapateiro, ao contrário, atendeu-a naturalmente, e depois que a freguesa saiu, voltando-se ao irmão, disse: "veja, irmão, acho mais conveniente que venhas exercitar a tua pureza na cidade para que ela não se torne como a manteiga ao sol".

O mesmo dizemos aos nossos estudantes rosacruzes - Filhos do fogo. Sejamos artesãos da verdade, construtores de bom exemplos, imunes e esclarecidos aos erros generalizados e até legalizados. Exercitemos a pureza no meio da batalha diária da existência, em meio aos pequenos desafios da vida. Aquele que morre deitado e sem lutar não merece o Valhala da bem-aventurança, não pode desfrutar da verdade e nem comer da sabedoria.

Veja as demais bem-aventuranças aqui
publicado na Revista Serviço Rosacruz de setembro de 1973

2 de out. de 2025

Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia.

O Sermão do Monte, Gustave Doré
"A Bíblia foi dada ao mundo ocidental pelos Anjos do Destino que, estando acima de todos os erros, dão a cada um e a todos, exatamente o que necessitam para o seu desenvolvimento. Por conseguinte, se procurarmos a Luz, encontrá-la-emos na Bíblia"  (Max Heindel.)

A sentença chave para essa bem-aventurança é: "Pense com Amor".

Disse Cristo: "Assim como o homem pensa em seu coração, assim ele é". "Onde está o seu coração, aí está o seu tesouro." Ora, sabemos que a Bíblia, quando fala em coração, refere-se ao mais íntimo do homem, ao imo, ao subconsciente. O Cristo lia os pensamentos das pessoas e frequentemente denunciava a hipocrisia. Pensar uma coisa e fazer outra é falsidade. "Seja o vosso falar: sim, sim! não, não! Por-que tudo o que saia disto é obra do demônio" (o adversário em nós).

De fato, a misericórdia deve começar no pensamento, na causa, para que seja coerente e válida, quando expressa em atos. Quem ama em nós é o Cristo interno, o Senhor do Amor, o próprio Amor. "Deus é Amor e quem vive em Amor vive em Deus e Deus nele". Infelizmente, quando o impulso de amor, de misericórdia, cai em nossa mente concreta e dali vai ao corpo de desejos, para envolver-se em matéria emocional, corre um grande perigo na jornada: o de sofrer os condicionamentos de nossa personalidade, de ser disvirtuado por nossos interesses e preferências afetivas e pontos de vista pessoais. É como a cálida e límpida água que entra no coador e sai tingida pelo café: damos a cor de nossa personalidade aos impessoais impulsos do espírito. É mister, então, exercitarmos a introspecção, a busca sincera do Cristo, para Lhe sentirmos os designios e corajosamente os pormos em ação, tais como os recebemos. Pessoas sensíveis e boas recebem intuições para agir corretamente. Max Heindel recomenda seguirmos esse primeiro impulso, que é sempre bom. Agora sabemos o que é bom e agimos por dever (levando a personalidade a obedecer a Cristo). Mas no futuro agiremos espontaneamente por amor.

Se a misercórdia deve começar na origem, na causa, no pensamento e terminar coerente e fielmente na ação, convém observarmos nosso comportamento nas "críticas". Notem quantas vezes somos faltos de misericórdia, sobrecarregando com a força de nosso pensamento, e até de nossas palavras desamorosas, um pobre irmão curvado ao peso do fardo da aflição, da tentação e do erro. Ao contrário, se agimos por impulso de amor crístico, buscando ver nele o Cristo, que o torna nosso irmão, aí estaremos contribuindo para que nele se desperte a vontade espiritual de erguimento e ficaremos livres de atrair sobre nós a falta de misericórdia de outras pessoas. Quando exercemos misericórdia autêntica, profunda, que se iniciou com um pensamento de compreensão e de bondade, por certo colheremos os frutos de misericórdia que plantamos, segundo lei infalível do Senhor: "Aquilo que semeares, isso mesmo colherás". Lembremos a resposta de Cristo àqueles que o criticavam por se achar entre os pecadores: "Eu vim para aqueles que têm necessidade de mim". Como Cristos em formação, devemos pensar e agir de modo idêntico. Se não exercermos misericórdia quando ela se faz necessária, quando a faremos? "Haja, pois, em vós, o mesmo sentimento que houve em Cristo-Jesus". Lembremos, ademais, o que diz o final de nosso Ritual devocional: "Esforcemo-nos por esquecer, diariamente, os defeitos de nossos Irmãos e procuremos servir à divina essência neles oculta, o que constitui a base da fraternidade".



publicado na Revista Serviço Rosacruz de agosto de 1973