O Sermão do Monte, Julius Schnorr von Carolsfeld
"A Bíblia foi dada ao mundo ocidental pelos Anjos do Destino que, estando acima de todos os erros, dão a cada um e a todos, exatamente o que necessitam para o seu desenvolvimento. Por conseguinte, se procurarmos a Luz, encontrá-la-emos na Bíblia." (Max Heindel.)
A sentença-chave desta bem-aventurança: Bodas Crísticas pela pureza.
A promessa aqui contida é: ver a Deus. Mas Deus não é corpóreo e, se fosse, não seria Deus. Compreendemos o que Cristo disse à mulher samaritana: "Tempo chegará e já chegou, em que não adorareis mais a Deus neste Monte, nem nos templos, porque Deus é Espírito e Verdade, e cumpre que o adoreis em Espírito e Verdade." Então, como podemos vê-Lo?"Agora conhecemos em parte, mas então conheceremos como também somos conhecidos." .. face a face, não através de espelhos, não por reflexos. É o que se dará: uma percepção interior, uma experiência de contato crístico - a conscientização da Presença.
Mas, para isso, há uma condição e um meio: um coração limpo. Que quer dizer Cristo com isso? Coração limpo é: pureza do subconsciente, do mais profundo do ser. Não basta compreender intelectualmente a verdade e almejá-la. Entre compreender e almejar, até alcançarmos a realização espiritual, sabemos que há um abismo. Os médicos, em geral, conhecem muito bem a higiene e as enfermidades. "Conhecem." Mas acabam adoecendo e sofrendo como outros que nada sabem. Muitos letrados e sábios falam brilhantemente sobre problemas transcendentais, mas vivem como pessoas comuns. Muitos estudiosos e graduados em conhecimento bíblico e teologia andam com a Bíblia debaixo dos braços e na sua memória;todavia ainda não alcançaram as promessas nela anunciadas. Por quê? Porque falta a reforma profunda, que atinge o subconsciente.Em primeiro lugar, eles não possuem as chaves para o verdadeiro conhecimento do ser, trate-se de saúde física, moral ou mental, que no fundo é a mesma coisa. Uma coisa não está desligada da outra. As pessoas se acham desorientadas no labirinto das especializações, sem uma base profunda que lhes permita enxergar a Unidade e os leve a considerar as indispensáveis correlações.
Sobretudo, as pessoas estão pouco dispostas a ficar puras. Elas se comprazem com a escravidão: na Inglaterra e nos Estados Unidos foram liberados os tóxicos e já existem no mercado cerca de uns quarenta cigarros de maconha... O conceito de liberdade está invertido: a liberdade para os prazeres do sentido representa, opostamente, a escravidão para o Ser real que nos habita e que vai perdendo, desse modo, sua margem de expressão. O decreto da falência de equilíbrio de há muito foi promulgado: nos países, ditos os mais civilizados, há os maiores indices de suicídio; neles, os hospitais de doenças nervosas se multiplicam. Até Herodes reviveu neste Tempo do Fim, na Lei norte-americana que autoriza o aborto legal por até três meses de gravidez.
Não só o Cristo mas os nobres cavaleiros de nossos ideais, estão ameaçados. Parsifal continua lutando e sofrendo pelo mundo, sem poder usar a espada do poder a seu favor. Anfortas continua curtindo as dores do remorso, sem as águas purificadas do Cisne. E o lírio entreaberto, na fachada do Templo de Salomão, espera pacientemente pelos puros de coração.
O maior perigo na hora presente é o desanimo dos homens de boa vontade. Estejamos alertas. A questão é interna, é individual, é silenciosa. Precisamos trabalhar em retiro interno, sem alarde praticando persistente e zelosamente os exercícios, vigiando e orando. "Eis que vos atiro de encontro de lobos; sede, pois, simples como as pombas mas prudentes como as serpentes", quer dizer, continuemos no mundo sem pertencer-lhe; sinceros em nossos ideais, sem pregá-los ostensivamente, senão por exemplo e utilizando a sabedoria dos iniciados.
Lembremos da história do sapateiro: ele vivia e trabalhava no meio do povo. Seu irmão, eremita, refugiava-se por longos periodos na montanha, em estéril meditação; não exercitava a tentação do convívio humano. Certa vez, como de costume, foi em visita ao irmão sapateiro. Em sua conversa buscava sempre convencê-lo a abandonar o mundo e juntar-se-lhe em retiro. Ele, o eremita, sempre trazia no peito, uma pedrinha de gelo intacta, como símbolo da pureza das montanhas nevadas; era um filho da água. Seu irmão, o sapateiro, mantinha no peito uma brasa acesa, emblema dos "filhos do fogo" e da ação. Conversavam eles quando entrou uma mulher muito bonita e pediu os sapatos que mandara consertar. Tomou-os e, ao calçá-los ergueu as pernas, deixando-as à mostra. Isto embaraçou sobremaneira o eremita: ruborizou-se e a pedrinha de gelo começou a derreter... Mas o sapateiro, ao contrário, atendeu-a naturalmente, e depois que a freguesa saiu, voltando-se ao irmão, disse: "veja, irmão, acho mais conveniente que venhas exercitar a tua pureza na cidade para que ela não se torne como a manteiga ao sol".
O mesmo dizemos aos nossos estudantes rosacruzes - Filhos do fogo. Sejamos artesãos da verdade, construtores de bom exemplos, imunes e esclarecidos aos erros generalizados e até legalizados. Exercitemos a pureza no meio da batalha diária da existência, em meio aos pequenos desafios da vida. Aquele que morre deitado e sem lutar não merece o Valhala da bem-aventurança, não pode desfrutar da verdade e nem comer da sabedoria.
publicado na Revista Serviço Rosacruz de setembro de 1973
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