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| O Sermão do Monte, desenho de Jacques Callot. Fonte:https://www.nga.gov/ |
"A Bíblia foi dada ao mundo ocidental pelos Anjos do Destino que, estando acima de todos os erros, dão a cada um e a todos, exatamente o que necessitam para o seu desenvolvimento. Por conseguinte, se procurarmos a Luz, encontrá-la-emos na Bíblia." (Max Heindel.)
A sentença-chave para esta Bem-aventurança é: "Dominio de si mesmo".O sentido literal deste verso vem sugerir-nos de imediato, as perseguições que sofremos por parte dos outros, quando o bem que estamos pregando se constitui num incômodo contraste com sua maneira errada de agir Poderemos pensar em Socrates, que libertava os jovens e a elite autêntica de seu tempo de todos os sofismas e, no entanto, injustamente foi condenado a beber cicuta. Poderemos pensar em Cristo e meditar que ainda hoje se Ele aparecesse sobre a Terra, seria da mesma forma injustiçado. Poderemos pensar nas injustiças que observamos em nosso ambiente de trabalho e naquela famosa frase de Rui Barbosa em que ele se mostra desiludido ante o triunfo do mal.
Mas, esta bem-aventurança, comо as demais, refere-se ainda ao intimo do Ser humano, alude à esfera estritamente individual. Cristo se preocupa com esta parte interna - origem e base das exteriores.
Mas o leitor pode levantar esta interrogação: "Se o Cristo ensina que através da retidão, alcançamos a paz, como pode considerar uma bênção sermos perseguidos por causa dessa mesma retidão?" A pergunta é natural e a resposta explica o porquê. Ele diz "Não vim trazer a paz, senão a espada" . Mas, afinal, se veio trazer a espada, que sugere luta,não veio trazer a paz que lhe é oposta! poderemos pensar!.
A questão se tornará ciara quando mostrarmos que o estabelecimento da paz vem suscitar, em nosso intimo, a reacão de nossa natureza inferior. No estágio atual de evolução, o Homem, o Espirito, conta com dois exércitos contrários: as chamadas forças do bem, formadas por tudo que temos de nobre e elevado; e as ditas forças do mal, constituidas pelos impulsos inferiores e comandadas pelo Egoismo. Os documentos mais importantes de todos os movimentos filosóficos tratam deste assunto como tema central. Zoroastro, na Persia; o "Bhagavadghita", na India; o Documento da Guerra dos FiIhos das Trevas contra os Filhos da Luz, dos Essénios (descoberto em 1947): a Lenda dos Maniqueus; o Evangelho de João; a Luta de Israel contra os Filisteus, a parábola de Sansão para citar apenas alguns, são uma mostra da importância deste assunto. No entanto, é bom repisar, tome-se sempre a questão no lado interno e individual, pois se refere à iniciaçãn. O "Novo Testamento" está cheio de citações acerca desta questão. Paulo apóstolo fala: "o bem que quisera fazer, não faço; mas o mal que não quisera fazer, esse eu faço". Ora, se faço o que não quero, quem o faz não sou eu mas o pecado que habita em mim. Quando quero fazer o bem, o mal está comigo. Segundo o homem interior (o Eu real e superior), tenho prazer na lei de Deus. Mas nos meus membros outra lei batalha contra a lei do meu entendimento e me prende debaixo da lei do pecado". (Paulo aos Romanos, 7. 19 24).
Vejam que o assunto se torna muito claro. Os hábitos viciosas que fomos adquirindo desde a chamada "queda" lutam desesperadamente pela sobrevivência, porque sabem que não têm base em a natureza de Deus e portanto, estão fadados a desaparecer, a fim de que o homem seja restituído à sua natureza divina, que é a única existente, a única que tem causa e raiz eterna. No entanto, os despojos desta luta serão preciosos, porque vão consituir um tesouro de consciência e de discernimento, que nos formarão superiores às Hierarquias que não passaram por isso. É uma compensaçãn justa a toda o sofrimento que estamos arrostando.
É oportuno lembrar que a etimologia das palavras "Demonio" e "Satanás" é o adversário, aquele que luta contra o bem. Esta compreensão tira aquele pavor que a igreja incutia no passado. Igualmente, "inferno" significa, o mais inferior, referindo se a um estado de consciència inferior. a uma condição de sofrimento, de "fossa". Tudo, em última análise. se dá no intimo de cada ser humano, E, como dissemos, a grande arma da vitória é a Verdade, o conhecimento aplicado, vivenciado profundamente, que atinja e regenere o subconsciente.
E o prêmio desta bem-aventurança é: porque deles é o reino dos céus - aquele estado supremo, o mais elevado. em que o homem, como ser espiritual, se sente realmente livre, em seu natural estado, no de todas as promessas e partilhando do banquete oferecido ao vitorioso "filho pródigo". Recordem que o Pai ofereceu o "cevado da sabedoria" ao filho que estava perdido e nada deu ao filho que havia ficado com Ele. A explicação esotérica é esta: maior mérito possui o que teve a coragem de enfrentar as vicissitudes da jornada evolutiva e dela tornou cheio de experiencias e de riquezas animicas, do que o Espirito que, permanecendo junto a Deus, nada acrescentou a si mesmo. Dai que sejam bem-aventurados os espiritos peregrinos que tomam sua parte da herança divina (as faculdades espirituais latentes) e as arriscam na senda evolutiva. Dessa jornada retornam cheio de cicatrizes, de experiências e de glórias.
publicado na Revista Serviço Rosacruz de novembro de 1973

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