2 de jun. de 2012

A Tentação no Deserto (parte I)


Pergunta-se frequentemente: porque era necessário a Cristo Jesus sofrer as tentações, aparentemente desnecessárias para tão elevado ser? A simples idéia de que Cristo pudesse fracassar repugna o Cristão sincero.

Em resposta a essa pergunta, apontamos um fato. Quando Cristo baixou a Terra para ocupar os corpos físicos de Jesus, Ele, voluntariamente "tomou a Si mesmo a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens". Desse modo atraiu a Si todas as condições de nossa vida humana e tinha que ser provado (provado é termo mais adequado que tentado) nas fraquezas humanas. Não queremos insinuar que o Arcanjo Cristo pudesse falhar em qualquer destas provas. Simplesmente queremos explicar que a parte humana, representada pelos corpos físicos de Jesus, que Ele ocupava, precisava de demonstrar se era plenamente capaz de suportar a carga "dos pecados do mundo".

A tentação que representa o segundo passo ou segunda iniciação menor na elevação do Aspirante, verifica-se quando Ele penetra pela primeira vez no Mundo Invisível e enfrenta, como sabemos, um demônio espantoso, conhecido como o "Guardião do Umbral" ou "Habitante do Limiar". Essa entidade é formada pela totalidade de seus erros passados que não foram conscientemente resgatados e apagados. Cada passo no caminho é necessariamente seguido de provas para demonstrar a aptidão e preparo do Aspirante. Do mesmo modo, no caso de Cristo Jesus, Ele deu o primeiro grande passo quando no batismo tomou posse dos corpos de Jesus. Isso representa o início de Seu ministério e grande adiantamento, tanto para o celestial Cristo como para o humano Jesus, assim como o aspirante comum ao dispor de seus veículos para uso do espírito interno, ao pôr-se em comunhão com ele.

Qual era, exatamente, a natureza do demônio que tentou Cristo-Jesus? O cristianismo popular e ortodoxo é vago e nebuloso em sua explicação a esse respeito. Todavia nós, estudantes da Filosofia Rosacruz, dos sublimes ensinamentos da Sabedoria Ocidental, compreendemos que, Cristo-Jesus agiu como libertador da raça humana, tinha que enfrentar e conhecer os problemas e todas as misérias do homem. Em outras palavras: Ele tinha que enfrentar o habitante do Limiar do corpo de desejos da Terra, o Guardião do Umbral de toda a raça, um ser inimaginavelmente terrível, personificação de todo o mal acumulado pela humanidade desde suas primeiras transgressões na queda. Este demônio não fora formado por Cristo-Jesus, mas "Deus amou de tal maneira o mundo que deu Seu Filho Unigênito para salvá-lo" e, assim, com a instrumentação humana mais pura que pode encontrar, a de Jesus, Cristo intercedeu pelo mundo, enfrentando e vencendo o seu passado restritor, de maneira a dar oportunidade a cada homem, liberto das dívidas coletivas, de continuar a completar sua obra de evolução. Era o demônio do medo, mas Cristo-Jesus não o temeu. Certamente, sentiu o temor horrível que lhe infundia o demônio, mas não precisou sequer de coragem para enfrentá-lo, porque simplesmente não o temia.

Quando encaramos sem hesitação o objeto que nos inspira medo, armamo-nos de coragem e o temor desaparece. Já sentimos muitas vezes isto, quando somos provados em sonho: aparece-nos um monstro que se avoluma a medida que se aproxima de nós. Se fugimos parece que ele fica maior ainda e procura agarrar-nos, mas se o enfrentamos, ele diminui de tamanho e vai se distanciando até desfazer-se. Medo não é desonra, mas se cedemos à sua influência torna-se realmente temor, capaz de apavorar-nos e até adoecer-nos. Todavia se lhe fazemos frente, que é real e verdadeiramente um heroísmo, temos admiráveis recompensas e grande progresso na senda espiritual de sublimação aos nossos erros passados.

Como hoje ao Aspirante ocultista, as provas de Cristo-Jesus eram três e sucederam após prolongado jejum, quando Cristo estava sob a maior pressão e enorme privação, quer físico, quer mentalmente. Por isso, o demônio o atacou no ponto, que julgava o mais fraco: a fome física, real e simbólica. Seria fácil a Cristo-Jesus transformar as pedras em pão para mitigar a fome, ou seja sacar proveito material mediante o poder que estava em suas mãos. - "Que mal pode haver? - "insinua o tentador". É uma coisa muito justa".

Ora, é uma lei cósmica: ninguém pode tirar algum proveito material para si mesmo, pelo uso de seu poder espiritual.

Se o Cristo falhasse nesse teste estaria incorrendo em magia negra. Portanto, enfrentando o demônio pelo poder da palavra, como nós ao invocar um poder superior, disse Cristo-Jesus positivamente: "NÃO SÓ DE PÃO VIVE O HOMEM, MAS DE TODA A PALAVRA DE DEUS". E deste modo neutralizou a sugestão inferior, enaltecendo a onipotência da palavra divina. (clique para continuar)

Traduzido e adaptado de: The Temptation in the Wilderness (Jack L.Burtt) da "Rays From Rose Cross", Janeiro de 1963. Publicado no ECOS da Fraternidade Rosacruz – Sede Central do Brasil, Novembro de 1997.

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